Thursday, March 30, 2006

camping, autocaravanismo e turismo!

camping, autocaravanismo e turismo! é o blog do patrocinador do Bar do Além, Alenquer Camping visivel no site www.dosdin.pt/agirdin. Noticias de viagens, com fotografias, e utilização de autocaravanas (AC) ou camping cars ou motor homes conforme se utilize a lingua francesa ou inglesa.

Notícia tambem de restaurantes e tasquinhas de preço acessivel

Monday, March 27, 2006

A propósito da tertúlia de 22 de Abril, nota sobre um livro recente do orador...



A implantação da República em Portugal, em 5 de Outubro de 1910 (completam-se agora 95 anos), não foi resultado exclusivo da revolta militar personificada na Rotunda pelo comandante Machado Santos e apoiada nas ruas pelas células carbonárias de Lisboa.
Informação editorial sobre Jorge Morais em www.via-occidentalis.blogspot.com
Uma conspiração internacional, envolvendo a Maçonaria inglesa e a Família Real britânica, deu aos revoltosos portugueses a garantia prévia (e escrita) de que a Inglaterra, a França e a Espanha não levantariam um dedo para salvar a Dinastia de Bragança.
E só depois de obtida esta garantia o estado-maior revolucionário avançou para pôr fim à Monarquia mais antiga do Continente Europeu.Numa reconstituição historiográfica exaustiva, agora publicada em livro sob o título “Com permissão de Sua Majestade”, o jornalista e investigador Jorge Morais sustenta que, em 5 de Outubro, as tropas revoltosas se limitaram a seguir o “sinal verde” dado a partir de Londres pelo poderoso “lobby” liberal radical (em que pontificavam altos dignitários maçons, homens de negócios ingleses com interesses na África portuguesa e jornalistas de influência internacional) com conhecimento e permissão de dois membros da Família Real britânica: o próprio Rei Jorge V e seu tio, o Duque de Connaught.
Na sua obra, baseada em documentação de grande rigor historiográfico mas apresentada numa linguagem acessível ao leitor comum, o autor relata como, em Setembro de 1909, o Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano, Sebastião de Magalhães Lima, viajou secretamente para Londres a fim de obter garantias da congénere inglesa (cujo Grão-Mestre era então o Duque de Connaught, filho favorito da Rainha Victoria e irmão do Rei Eduardo VII) de que o golpe em Lisboa teria a aprovação do Governo de Sua Majestade, chefiado por Asquith e integrado por Winston Churchill, Lloyd George e Edward Grey – maçons de inegável peso na política mundial da época.
Valendo-se de uma teia de cumplicidades maçónicas, políticas, jornalísticas e financeiras, Magalhães Lima voltou a Londres em Julho de 1910 (já com o Rei Jorge V no Trono), agora acompanhado pelo abastado homem de negócios e dirigente republicano José Relvas, para ouvir da boca de um membro do Governo inglês a confirmação de uma “neutralidade compreensiva”.
A posição das autoridades de Londres, expressa por escrito num Memorandum secreto a que o autor teve acesso nos Arquivos Nacionais britânicos, permitiu aos revoltosos lançarem-se confiadamente numa revolução que, sem esse apoio, falhara de tentativa em tentativa nos 20 anos anteriores.
E, com efeito, três meses após o seu encontro reservado no Foreign Office, a República estava implantada em Portugal.“Com permissão de Sua Majestade” traça o quadro político, nacional e internacional, em que decorre esta conspiração; comprova a ligação dos principais intervenientes à Maçonaria e ao “lobby” radical europeu; transcreve correspondência, até hoje mantida no silêncio dos arquivos, entre a Grande Loja Unida de Inglaterra e altos dirigentes do Grande Oriente Lusitano; reconstitui as viagens do Grão-Mestre português e a sua passagem pelas Lojas de Londres; evidencia o ambíguo papel do Rei Jorge V (primo do último Monarca português, D. Manuel II) em toda a trama; e revela por extenso o Memorandum do Ministério britânico dos Negócios Estrangeiros que permitiu aos revolucionários de Lisboa implantarem, por fim, a República em 5 de Outubro de 1910.

Saturday, March 25, 2006

Próximo almoço debate sábado, dia 22 de Abril, 2006

Dia 22, sábado o orador será Dr. Jorge de Morais, escritor, jornalista, poeta e historiador.
O tema será: A relação entre a maçonaria inglesa e a implantação da República em 1910.
Moderador: Prof Dr. Luis Nandin de Carvalho
Início pelas 12h na tertúlia do Bar do Além, no Alenquer Camping (ver localizaçao em www.dosdin.pt/agirdin)
Almoço pelas 13.3oh no local, preço tudo incluído 17,50€(entradas, carne de porco à portuguesa, sobremesa surpresa, vinhos, cerveja ou refrigerantes e café).
Na ocasião estará a venda o recente livro do autor, Com permissão de Sua Magestade, prevendo-se também uma sessão de autógrafos
lotação limitada, inscrições prévias necessárias por mail bar.do.alem@gmail.com, ou telemovel 934289375
...................
As tertúlias seguintes terão lugar no sábado 20 de Maio, com a Doutora Célia Costa sobre o Ritual Templário, e no dia 17 de Junho com a Prof Doutora Maria Helena Carvalho dos Santos, sobre a Iniciação na Maçonaria Feminina.

Thursday, March 23, 2006

Somos todos mágicos? por Antonio de MAcedo (membro da Tertúlia)

SOMOS TODOS MÁGICOS?

por António de Macedo


Palestra proferida na Tertúlia do Bar-do-Além (almoço-debate), em 22 Fevereiro 2003, Alenquer.

Within the armour is the butterfly and within the butterfly — is the signal from another star.
(Dentro da armadura está uma borboleta, e dentro da borboleta está o sinal duma outra estrela).
Philip K. Dick, Man, Android and Machine

O que é a Magia?
Sinceramente não sei lá muito bem, talvez porque seja possível considerá-la segundo diferentes perspectivas, variando correlativamente as respectivas definições… Aliás, não gosto muito de definir coisas, porque já dizia o antigo sábio, definir é limitar, e neste caso (e em minha humilde opinião), a Magia é ilimitada e ilimitável!
Não sei se já repararam que o título desta despretenciosa conversa é uma pergunta. Ora, quem pergunta quer saber! Ou seja — eu não sei, e gostava que me dessem alguma resposta! Será que somos todos mágicos? Todos, mesmo? Ou só alguns? Ou, quem sabe, talvez nenhum? Ou talvez apenas aqueles que tiraram o respectivo curso, como o Harry Potter na Escola de Feitiçaria de Hogwarts?…
Dizia eu há pouco que a Magia é ilimitada e ilimitável… Não acreditam? Ora comecemos por alguns exemplos:
— a Magia dum pôr-de-Sol num mar de Verão;
— a Magia dum sorriso de criança;
— a Magia duma obra de arte que nos encanta…
Que Magia é esta?
Fascinação, graça, enlevo, sedução… ou feitiço!? Feitiço lembra feitiçaria… que é talvez uma forma de baixa magia, mas não percamos agora tempo a discutir isso. Os prosaico-pragmáticos dirão apenas: Oh! Não passa duma metáfora, a magia dum sorriso… Bom, metáfora ou não, um sorriso no momento certo tem um espantoso poder de cura — não será isso Magia, e da melhor?
Mas ainda há mais: vejamos uma outra espécie de Magia, e uma das não menos curiosas:
— a Magia da Ciência.
Que tal? Bom, já estou mesmo a ouvir os comentários: não pode ser! Ou é Magia, ou é Ciência!… Mas a verdade é que parece que por vezes, no espírito do ser humano contemporâneo, a Ciência tem a sua Magia, e uma Magia eficaz, que através da tecnologia produz os efeitos mais surpreendentes: a fissão nuclear, os computadores, os clones, as viagens espaciais, a engenharia genética, a VA [Vida Artificial]…
E não só! Em geral associamos a Magia a um poder que produz efeitos visíveis por meio de forças invisíveis — ora, a verdade é que estamos rodeados, para não dizer constantemente interpenetrados, por forças invisíveis (e nem sequer me refiro ao invisível da religião ou da mística, ou dos pressentimentos e dos sonhos), mas já que falámos em Ciência, e, por arrastamento, em Tecnologia, aí vai:
— basta-nos referir o invisível electromagnético que «governa» as nossas vidas com surpreendentes efeitos visíveis e é tanto ou mais fantástico que os assombros e prodígios das histórias mágicas de bruxas e feiticeiras dos séculos passados: a electricidade, as ondas de rádio, o telemóvel, a TV, os raios-X, o ciberespaço, a ressonância magnética nuclear, a Internet, o comando a distância sob todas as suas formas, a RV [Realidade Virtual], os infravermelhos, as microondas, a electrónica em geral…
Será esta a Nova Magia?
¿Terá a ver com as novas modalidades em que a «velha Magia» se intercruza com as novas tecnologias? Por exemplo, os New Agers usam cristais sólidos (tal como as novas tecnologias usam cristais líquidos) para memorizar, armazenar e processar «espírito»; os praticantes de channelling e os adeptos de OVNIlogia transformam as «mensagens» recebidas em «informação viva». Por outro lado, muitos cristãos evangélicos acreditam que a tecnologia das comunicações, que leva a Palavra (o Verbo!) aos recantos mais remotos do planeta, é o rastilho que contribuirá para fazer acelerar o «fim dos tempos», tal como se lê no Novo Testamento: «E este evangelho do Reino será prègado em toda a orbe, para dar testemunho a todos os povos, e então virá o fim» (Mateus 24, 14). Alguns chegam ao ponto de afirmar que os Anjos do Apocalipse não são mais do que os satélites globais de comunicações.
E quanto à velha Magia, já agora?
A velha é muito velha, vem dos arcanos tempos dos Colégios de Magos — do Egipto, da Caldeia, da Pérsia, donde teriam vindo os famosos Magos que seguiram a Estrela de Belém até ao Presépio onde havia nascido o Salvador do Mundo.
Sem querer entrar em excessiva pormenorização histórica, para o que não tenho nem capacidade nem aqui o tempo, basta-nos adoptar a distinção que os antigos Gregos faziam entre os que se dedicavam às kryptai technai (lat. secretae artes), ou seja, uma distinção tripartida:
De imediato vinha o que os Gregos chamavam o goês (pl. goêtes), o mágico vulgar, que se dedica a fazer «passes mágicos» e adivinhações populares, muitas vezes apenas ilusionistas, de tal modo que essa palavra acabou por ter a conotação de charlatão, bruxo, impostor. A magia praticada por esses, a Goêteia, já no tempo de Sócrates (séc. V a. C.) se identificava com superstição e impostura.
Um bom degrau acima temos o magos (pl. magoi), de que o Evangelho de Mateus nos dá como exemplo os que vieram do Oriente em direcção a Belém da Judeia, seguindo a Estrela que os conduziu ao berço do Salvador. Os verdadeiros magoi eram uma classe iniciática e sacerdotal que proveio da Média e da Pérsia, e entraram em cena na Grécia no século VI a. C.
Pelo testemunho de fontes tão diversificadas como Heródoto, por um lado, ou a Bíblia, por outro — o sonho do Faraó (Gen 41, 8), o sonho de Nebuchadnezzar (Dan 2,2), etc. — sabemos que os Magos invocavam o fogo do céu, propiciavam sacrifícios, interpretavam sonhos, augúrios e obravam prodígios. Mas, com o correr dos tempos, tão-pouco os magoi escaparam ao anátema: nos primeiros séculos da era cristã — talvez por influência das acusações dos apologetas «ortodoxos» cristãos (p. ex. Justino o Mártir, Ireneu de Lião, etc.) — também já eram acusados de pertencer a torpes sociedades secretas, e de praticar incesto, adoração de maus demónios, sacrifícios humanos, canibalismo, barbarismo, etc.
Finalmente, a mais elevada classe de magoi era constituída pelo que os Gregos chamavam theios anêr, o «homem divino» (atenção!, «homem» varão, e não «homem» ser humano em geral!). O theios anêr era um deus ou um daimon disfarçado, percorrendo o mundo em um corpo aparentemente humano. O «homem divino» podia fazer tudo quanto o magos podia fazer, nomeadamente a prática do bem (embora também pudesse amaldiçoar os «maus»), mas era sobretudo capaz de realizar milagres e prodígios graças ao poder divino que tinha em si, sem precisar de rituais nem de incantações exteriores. Um exemplo de «homem divino» é-nos dado por Cristo Jesus: reparai que todos os «prodígios» ou «sinais» que Ele realizava, fazia-o sem precisar de palavras encantatórias, gestos rituais ou traçado mágicos, que eram imprescindíveis ao mágico vulgar como lemos nos manuais de Magia desses tempos.
Um outro exemplo documentado de theios anêr é o do pitagórico Apolónio de Tyana, contemporâneo de Jesus, cuja exaustiva biografia, redigida por Filostrato a pedido da imperatriz romana Júlia Domna (sécs. II-III d. C.), contém muito material que os estudiosos consideram em parte verdadeiro, e em parte fantasioso, sendo que este útimo faria parte duma espécie de «encomenda» do Império romano para fazer dele um herói mítico do seu paganismo, por oposição à crescente e preocupante disseminação cristã.
Seja como for, e quer se trate de «velha» Magia com as suas ramificações de Hermetismo, de Astrologia, de Alquimia, de Theo-Sophia (Mestre Eckhart, Paracelso, Giordano Bruno, Jacob Boehme, Eckartshausen, Swedenborg, Schelling, etc.), dos ocultismos do século XVI (Agrippa) ou do século XIX (Eliphas Lévi), do Teosofismo de Helena P. Blavatsky ou ainda da «recuperação» da tradição mágica da Wicca, — ou da «nova» Magia da Ciência e das tecnologias de que falámos, os princípios são sempre os mesmos:
— O universo é uma central global de força e energia;
— Essa energia está em tudo e em todos — é o princípio das correspondências;
— Essa energia, ou essa força, pode ser concentrada e armazenada;
— Essa energia, ou essa força, pode ser «programada» ou modulada com alteração da sua qualidade vibratória;
— Essa energia modulada constitui um «poder» que pode ser dirigido com uma finalidade específica para exercer efeitos sobre determinado alvo ou função.
A diferença entre a «velha», ocultista, e a «nova», tecnológica, está nos intrumentos utilizados: a velha utiliza varinhas, cristais, velas de diversas cores, óleos, palavras misteriosas, símbolos, incenso, cânticos, etc. e, sobretudo, o PODER INTERNO DO MAGO, ao passo que a nova utiliza fios eléctricos, microchips, circuitos integrados e outros utensílios e aparelhagens dependentes de leis da Física, da Química, da Matemática, etc. que podem ser manipulados «por fora», sem o concurso do poder interno do mago — neste caso, entenda-se, do técnico ou do simples utente que saiba carregar nos respectivos botões.
Mas mesmo sem entrar em tecnologias «mágicas» que são um dos grandes feitos da nossa época, penso que podemos dizer que de facto «somos todos mágicos», na linha do que descobriu o erudito padre dominicano André-Jean Festugière (1898-1982), estudioso das religiões antigas, das mitologias greco-romanas, do Hermetismo, do Cristianismo primitivo: ao analisar o Corpus Hermeticum, que ele traduziu na íntegra, Festugière julgou discernir nesse material uma clara diferença entre o que ele chamou um «Hermetismo popular» e um «Hermetismo erudito». No primeiro incluiu a Astrologia, a Alquimia e as Artes Ocultas, ao passo que o segundo seria uma Philo-Sophia gnóstica mais sofisticada que acentua o poder que o ser humano tem para descobrir dentro de si o conhecimento (Gnôsis) de Deus e do Cosmos — ou seja, no fundo o ser humano é um daimon astral em disfarce corpóreo, capaz de recuperar os seus poderes cósmicos através da Gnose, ou da sua natural capacidade de iluminação mística.
O próprio Cristo nos dá uma pista incontestável.
Se Ele disse: «Aquele que crê em mim, as obras que eu faço, também ele as fará, e maiores do que estas fará» (João 14, 12) — logo, somos todos mágicos, ou melhor: Magos!
Mas será realmente assim? Na verdade, Jesus pronunciou esta afirmativa no Sermão da Ceia, não no Sermão da Montanha (ou da Planície!) — o que significa que estava a dirigir-se aos «escolhidos», e não às multidões em geral…
Não tenhamos receio: trata-se apenas de um ou outro degrau temporário! As multidões estão apenas num degrau abaixo na escadaria da Evolução (ou da Iniciação, para quem opte por entrar numa Escola de Mistérios), mas subirão um dia, porque a Evolução é ascendente.
Nem podia ser de outro modo, o simples facto da vinda histórica de Cristo como Salvador e Redentor é a prova de que todos somos «escolhidos», pois Ele mesmo o disse: «Não vim para julgar o mundo, mas para salvar o mundo» (João 12, 47). Bastaria que um só de nós se perdesse, e a Sua missão teria sido vã: logo, somos todos escolhidos, somente depende do nosso esforço ascendermos mais depressa ou mais devagar.
Além disso, Ele foi muito explícito quando afirmou aos Seus discípulos em Cafarnaúm: «Em verdade vos digo, o que ligardes na terra será ligado nos céus, e o que desligardes na terra será desligado nos céus» (Mateus 18, 18).
É um ensinamento importante, este de Jesus aos Seus discípulos: tudo quanto se ata ou desata cá em baixo, tudo quanto se tece ou destece, projecta-se para o alto e tem um efeito análogo nos reinos supra-sensíveis e por conseguinte no Banco Cósmico (Central de Energia Acumulada), além de que vai construindo — ou desfazendo — a nossa futura morada «nos céus».
Quereis um exemplo da nossa magia, singelamente humana mas altamente eficaz?
Quando, instintivamente, pousamos a mão sobre o ombro ou sobre a cabeça dum parente ou dum amigo que está a sofrer, para lhe transmitirmos ânimo e lhe darmos «apoio moral», no fundo estamos a repetir um gesto dum ritual mágico muito antigo, que encontramos reproduzido em grutas pré-históricas, em baixos-relevos egípcios ou expresso noutras culturas e civilizações, incluso no Cristianismo: a «imposição das mãos». Este rito é eficaz, de um ponto de vista do «Mago» (e não do goês, entenda-se!), porque primeiro o Mago ergueu a mão, ou ambas as mãos, de palmas para cima para receber o influxo benéfico da divindade (ou da Energia Cósmica), armazenando-o em si e podendo portanto transfundi-lo, através das mesmas mãos, a outrem.
Até em simples jogos infanto-juvenis como «brincar às adivinhas», ou em jogos pré-adultos como queimar uma alcachofra ou atirar as meias por cima dos pés da cama, ao deitar, para «ver» qual o nome do/da namorado/a que as meias formaram ao cair, a tentação mágica subjaz em todos nós — nem que seja com a desculpa da imaturidade.
Mas mesmo depois, já mais velhinhos, quando preenchemos o boletim do Totoloto ou do Totobola, no fundo estamos, sem nos darmos conta, a «convocar» (para não dizer invocar) alguma misteriosa força invisível que nos transmita o dom da precognição e nos faça acertar nos resultados correctos. Até no acto ritual de apagar as velas dum bolo de aniversário, ou ao fazer um brinde tocando nos copos, emitindo votos de bons desejos, estamos a convocar as energias positivas para o bom sucesso dalguma coisa — ou longa e feliz vida para o aniversariante, ou êxito na empresa, ou situação, que justificou o brinde.
Por isso devemos ter o maior cuidado com o que pensamos, dizemos ou fazemos, pois todos somos receptores e emissores de energia, logo, cuidado! podemos estar a fazer magia negra sem o saber, basta um ressentimento, uma inveja, um dito rancoroso, um acto de vingança, uma projecção de ódio — e as energias invisíveis desencadeadas dirigem-se para o alvo. O que é muito grave, por todas as razões, não só pelo prejuízo que tal atitude causa no nosso avanço espiritual, mas também por razões de mera segurança pessoal: se o alvo está protegido — e muitas vezes basta ser uma pessoa boa sem maus sentimentos, ou correctamente devota, ou bem-fazeja, ou que esteja nesse momento a ter pensamentos amorosos e positivos — dá-se o «choque de retorno», e o emissor de energias malévolas apanha com o ricochete daqulo que emitiu.
O erro dos baixos mágicos é que usam e abusam das energias invisíveis, que buscam controlar para a obtenção de inconfessáveis proveitos pessoais. Cuidado, pois! Longe de nós a veleidade de pretender fazer-nos servir pelo sobrenatural — e muito menos pelo divino. Até no emprego duma simples oração é preciso a maior cautela! A oração é uma poderosa invocação mágica, sem dúvida, e por isso nunca a devemos usar para mudar as coisas, a vontade ou a maneira de ser dos outros e muito menos os desígnios de Deus — mas única e exclusivamente para louvá-Lo, render-Lhe adoração e agradecer-Lhe, ou, quando assuma a forma de súplica, para nos sabermos amoldar à Vontade Divina com aceitação compreensiva do que a razão não alcança — e grato júbilo. Quando estou enfermo e rezo: «Meu Deus, cura-me!», devo logo acrescentar, seguindo o exemplo de Cristo: «Pai, que se não faça porém a minha vontade, e sim a Tua».
E por aqui me fico, porque ficarmo-nos com a Vontade de Deus é compreender luminosamente que a Vontade de Deus é Boa, e que se eu souber amoldar a minha Vontade à Vontade Divina, estou de certeza a contribuir não só para o meu Bem, mas para o Bem de todos nós.

António de Macedo

Heraldica Sagrada por Joao Fernandes (membro da Tertúlia)

HERÁLDICA SAGRADA
Palestra do Coronel João Fernandes,
Membro da Academia Lusitana de Heráldica,
Proferida no Bar do Além, em Alenquer, em 15/12/2001


HERÁLDICA SAGRADA

Caldeus,Assírios,Egipcios,Gregos,Romanos,Celtas,Vickings,Muçulmanos, Germanos,Visigodos,Suevos,Ordens Monástico-Militares e tantos outros povos da Antiguidade, da Ásia e das Américas, quer em jogos de guerra ou lutas, cenarizavam os seus Exércitos com uma panóplia de símbolos e vestes que pretendiam potenciar o armamento usado, certificando-se ainda, por oráculos e pinturas na pele, que os Deuses ou Divindade caminhavam com eles e os protegiam.
Estandartes, escudos, lanças, espadas, diversas armas de arremesso e tudo o que servia na luta corpo-a-corpo, passou, gradualmente, com a indumentária guerreira, a traduzir uma simbologia em 3 vertentes principais, ordenando-se, ao mesmo tempo, as hordas em Exércitos.
Assim:
Invocar e evocar o símbolo das Divindades em luta.
Criar um cenário de terror no adversário, elevando, em contrário, o Moral das hostes.
· Adaptar a simbologia a um posicionamento e movimentação sinalética, ordenando o tipo de armas, mecanizando-se a manobra e transmitindo-se ordens pelo movimentar dos símbolos, irrelevando-se assim o analfabetismo das tropas ou a linguagem dos estrangeiros a soldo.
Nesta fase ancestral ou ainda recente em muitas tribos, tempos de semideuses ou heróis da guerra, onde as muralhas ou os lugares eram guardados por figuras dos deuses ou animais mitológicos, selvagens ou horrendos, quais gárgulas das igrejas cristãs ou dos templos antigos, começou-se, progressivamente, a associar símbolos, armas e animais, a virtudes e feitos. Perpetuava-se na pedra, nas pinturas e na escrita as vitórias das diferentes civilizações, onde as mais desenvolvidas materializavam a sua mito-história e os feitos de guerra em Arcos de Triunfo, nos túmulos dos reis, chefes e heróis, podendo mesmo ocorrer cemitérios vivos de representação, pela pedra, pela cerâmica ou com os próprios actores humanos na crença do imortal, como acontece ainda em algumas seitas ou na razão de se matar a mulher quando morre o marido, ainda em recente memória.
Todo o positivo de implantação e conquista territorial dos povos, alicerçado no sobrenatural e no divino, com Hércules ou Jasão, Péricles ou Alexandre, Ramsés II ou Moisés, Júlio César ou Carlos Magno, Viriato ou
Afonso Henriques, passou a arquétipo dos povos, dos seus heróis e lugares


(raiz do Deus Lug), com uma sedentarização cada vez mais acentuada, por motivos de defesa, comércio e expansão.
Hoje associamos mais a génese da heráldica aos tempos da Idade Média, dizendo-se que os primeiros Brasões de Armas foram do Rei Eduardo, o Confessor (reinado 1042-1066), fundador da Abadia de Westminster, um Escudo de Cruz floreada com cinco Pássaros, ou o criado por Henrique de Inglaterra, Duque da Normandia, para ser imposto a seu genro Geoffroy, filho do Conde de Anjou, em 1128, em dia de Pentecostes, o Escudo “lionceaux d´or”, ano do Concílio de Troyes, onde foi instituída a Regra Templária, baseada na Regra de Santo Agostinho.
Em minha opinião prefiro dizer que um dos primeiros Escudos da Europa é o do Conde D. Henrique, de prata e Cruz azul, de raiz sagrada, inspirado na Ordem do Templo, tanto mais que o encontramos igual nas Armas de Marselha, região primeira dos Templários e do Primeiro Cartulário desta Ordem, porto lendário e mitológico de chegadas de figuras sagradas do Novo Testamento. Talvez também pelo arquétipo da Terra Santa, graças à Cavalaria Teutónica, HERÁLDICA, tem origem na palavra germânica HARIWALT, com a sua correspondente franca HÉRAULT ou HÉRAUT, significando mensageiro ou criador. Assim HERÁLDICA é uma mensagem criada com o fogo de um arquétipo que irá sedimentar as tradições e as genealogias de pessoas, lugares ou grupos. Brasão é essa brasa de fogo que fará arder o seu criador ou o grupo criado, caso se desvirtue a sua mensagem.
Surge assim uma ciência de regras simples, decorada com arte, primeiro sagrada, depois profanizada, para perpetuar os actores das guerras, ora senhores feudais, reis e demais nobreza, clero e ordens monástico-militares, bem como as tradições dos lugares, castelos e lutas, avocando-se, de per si, uma representação figurada das suas origens, depressa transformada como ARQUÉTIPO nas descendências, reinos e organizações. Toda esta representação toma a forma de um Brasão de Armas, onde o Escudo e o Timbre são os dois principais elementos a traçar, nos quais é insuflado o Fogo do Arquétipo, deles emanando uma mensagem a perpetuar, complementada e explicitada numa Divisa.
Com as Escolas Iniciáticas da Antiguidade e os saberes metamorfoseados dos Colégios Romanos, Sufis, Celtas, Nórdicos e das Ordens Religiosas, a construção- base da heráldica obedece a duas regras principais de raiz cósmica e celestial, cujos princípios já estavam expressos há muitos séculos no próximo e extremo Oriente. A primeira é a associação ao septenário da Criação. A segunda é a divisão no quaternário material do Mundo, após a queda lendária do Ser Humano e dos Anjos. Assim pela primeira regra surge um ternário associativo de SETE cores, com o binómio planeta-ciclo zodiacal:
v MERCÚRIO---SAGITÁRIO---PÚRPURA
v VÉNUS-----------GÉMEOS------ VERDE
v MARTE---------CARNEIRO----VERMELHO
v JÚPITER--------TOURO----------AZUL
v SATURNO---CAPRICÓRNIO-NEGRO
v SOL---------------LEÃO-------------AMARELO
v LUA------------CARANGUEJO--BRANCO
Sendo o Sol e a Lua, com o seu amarelo e branco, o símbolo alquímico do ouro e da prata, por isso não tomando a designação de cores mas sim de metais.
Com a grande influência das Ordens emergentes de Jerusalém ( Templo, Santo Sepulcro, Malta, Sant´Iago da Espada e Teutónica ), foi desenvolvido o octógono das cores-metais, acrescentando-se o laranja do espectro solar ou arco-íris, em nada se alterando a geometria sagrada da construção, hoje cada vez mais ausente, mas que ainda se vê no Grande Tenente de sustentação dos 72 Brasões de Armas das Famílias de Portugal Manuelino, no Paço de Sintra, o mesmo número das escadas de Jacob, numa sala de 14mx13m, um mesmo octógono que circunda o Brasão de Armas do Papa Leão X, uma das raras representações papais da Árvore da Vida.
Pretendeu-se atingir a mística Estrela de 8 Pontas, já representada nos Mistérios de Ísis, conferindo aos Brasões um fecho octogonal simbólico, semelhante aos das Catedrais, dando também à heráldica uma plenitude mística comparada aos chakras do corpo humano, cabendo ao Sol e à Lua o papel de cimentar as cores na soldadura de Vulcano, o Espírito Santo Crístico, onde, por isso, não é permitido fundir o ouro e a prata, o LEÃO de FOGO e o CARANGUEJO da ÁGUA, sob pena de Saturno devorar o Brasão, como o fará se as cores forem sobrepostas sem metal, contrariando a lei da decomposição da luz no prisma de Cristal.
A segunda regra, de base quaternária, dando origem ao ESQUARTELADO do Escudo, segue a divisão do Paraíso Celeste narrado por quase todas as religiões, personifica os 4 Reinos deste Mundo e segue a compartimentação do coração humano, com duas aurículas e dois ventrículos, achando-se no seu centro superior o ponto sagrado do Escudo, onde se enrola toda a energia do Brasão, como no Báculo do Bispo, mas também onde ela se pode perder, designando-o também a linguagem heráldica como “ponto do abismo”, como se o seu detentor activasse a energia de todos os seus vórtices, descontroladamente, levando-o à loucura e à demência, como sucedeu a tantos Reis e Rainhas, como no caso de D. Maria I. Esta regra depressa foi violada na sua singeleza divisória, obrigando a novas subdivisões interiores do Escudo, mas por cautela do nefasto não se violou a adição teosófica de 4=10, ou seja 4+3+2+1, a base decimal ou do dízimo sagrado. As razões principais deste ritmo expansivo foram:
q Alargamento de posses de terras, com os seus arquétipos e títulos
q Figuração de uniões por casamentos, filiações e origens de linhagens
q Materialização dos princípios heráldicos, contrários à espiritualidade do seu traçado, cada vez mais falantes e abarrocados que evocativos e simbólicos do saber iniciático
Como em qualquer construção harmónica, de origem divina ou sacra, é essencial um trinitário de base.
Um Brasão de Armas assenta no ESCUDO-ELMO-TIMBRE, as peças fundamentais de uma mensagem a perpetuar ou de uma missão a cumprir. Como no guerreiro, se o escudo e o elmo faziam parte da sua protecção, o timbre conferia-lhe ilusão de altura, terror, força ou misticismo, como nos cornos dos Vickings ou nas plumagens cavaleirescas, nas cabeças de animais ferozes ou dos símbolos imperiais. Assim o Timbre heráldico é algo que não deve emergir do Escudo, mas sim do Mundo Astral, ainda que personificado ou emblematicamente desenhado numa figura, convencional ou não, desse mesmo Mundo manifestado, através dos reinos da Natureza ou da mitologia. Para que não houvessem dúvidas na mensagem do Brasão de Armas dava-se uma DIVISA que queria traduzir o seu FOGO. Se este FOGO também emanasse do Mundo Astral, ou dele se invocasse protecção, então encimava-se-lhe uma outra, como figura no Brasão de Armas do Exército de Portugal: POR SÃO JORGE. Então podemos dizer que DIVISA-ESCUDO-ELMO-TIMBRE é o quaternário harmónico do FOGO-MENSAGEM que deve assentar nos Valores da Ética e da Moral, emergentes das lendas, mitos, tradições, feitos, missões e objectivos, quer individuais quer colectivos, dando assim origem a diferentes classificações, por áreas, do estudo da ciência heráldica, v.g. militar, religiosa, genealógica, mas que a poderíamos dividir em duas grandes áreas, no objectivo desta abordagem: SAGRADA e PROFANA.
A dualidade atrás exposta não é, no real, tão simples assim. Excluindo a mais barroca, sem mensagem, ou a mais falante, sem arquétipo, as sementes da construção do traçado, sobretudo no escudo, existem nas duas. No entanto, o olho nu, distinguimos um traçado de geometria sagrada e uma construção meramente assente nas regras heráldicas, quantas vezes vazia de FOGO-MENSAGEM, talvez mesmo escolhida pela beleza, assistindo-se hoje a verdadeiros crimes de traçado face ao que se quer expressar. De início, a difusão da Cruz , da Flor-de-Lys, da Águia, do Leão, do Leopardo e animais mitológicos foi dominante. Depressa se alargou a outros símbolos, tais como animais, vegetais, minerais e inertes, partes do corpo humano, instrumentos diversos ou mesmo simbologias de organizações iniciáticas, umas mais explícitas que outras. Vejamos exemplos:
Ø Lobo, urso, cavalo, veado, galgo, touro, vaca, javali, gazela ou cervo, cabra, esquilo, carneiro, falcão, íbis, galo, truta, serpente, “golfinho”, peixes e conchas
Ø Rosa, oliveira, sobreiro, videira, trigo, cacto e diversos troncos, folhas, palmas e glandes
Ø Montanhas, rochas, corais, diamantes e objectos diversos como harpas, âncoras, chaves, arcos-de-tiro, espadas, adagas, achas-de-armas, martelos, esquadros, rodas, castelos, torres, ameias, palácios, navios e barcas
Ø Mãos, corações, cabeças, braços armados ou não, cálices, sóis, luas, hóstias, cometas, estrelas, colunas dóricas, jónicas ou corínticas e toda uma estilização falante para não se invadir a heráldica com uma arte naífe.



Com toda esta vasta simbologia, muitas vezes mais directa e falante que representativa e arquitepal, é essencial uma rígida padronização centralizada, cuidadosamente aconselhada e corrigida, antes cometida a sábios REIS-DE-ARMAS, antepassados de Sacerdotes ou Iniciados nos Mistérios Maiores, integrantes das Ordens Monástico-Militares, depois também assistindo os Reis( em Portugal iniciado com D. Manuel I, antes nas Ordens Portuguesas ), mas, progressivamente, caminhando-se para a separação do sagrado e do religioso, com raras excepções nos nossos tempos, onde a decisão por vezes reside no vistoso e por quem não detém saberes ancestrais, passando tais factos mesmo em eclésias ditas iniciáticas ou religiosas, plagiando-se ou juntando-se, a esmo, símbolos sem integração no Arquétipo invocado ou na Divisa lavrada.
Se o Leão, o mais difundido a seguir à Cruz, conjuntamente com a Águia, representa a coragem e a magnanimidade, nalgumas mensagens ele é o Leão de Judá, o Leão de S. Marcos, o Leão de Hércules, o Leão Alado que guardava os Templos da Ásia, de que são exemplos as Armas dos Papas: São Pio X, João XXIII e João Paulo I. No campo mitológico o Dragão é outro exemplo de difusão ancestral, com significação de domínio ou protecção, mas também não deixando, quando esverdeado, de estar associado a Vénus, a Estrela da Manhã, como era visto ainda em Estandarte dos Suevos e hoje na dança do COCA, no Minho.
Em iluminuras Sagradas, como a da Coroação da Virgem Maria por Cristo, onde a Trombeta Celestial parece avisar-nos do perigo do Dragão externo, havia sempre o cuidado, mesmo tratando-se de Elevadas representações, de rodeá-las de um Escudo, de uma ovalização ou quadratura Celeste. Tal prática é similar também na sustentação das Armas, chamando-se Tenentes às figuras Sacras e Suportes às figuras terrenas.
Outro aspecto mais curioso da heráldica é o CARBÚNCULO do ESCUDO. Embora se admita a sua origem próxima nas Armas do Reino de Navarra, certo é que este termo já era conhecido da Antiguidade como um mal vertido na pastorícia, mas também usado como arma “biológica” por quem profanasse os túmulos. Certo é que as Armas dos 4 primeiros Reis de Portugal assim estão guardadas. Os Reis seguintes parecem ter ido mais longe no saber iniciático, rodeando a Cruz dos Escudetes por 14 Castelos, tantas as divisões do Corpo de Osíris, depois unificado, estabilizado em 8 Castelos até D. Manuel I, ou com variantes de 10 que só encontram razões no saber judaico, como Sefirotes da Árvore da Vida. Quaisquer que sejam as opiniões, certo é que não está no Arquétipo Místico de Portugal ter a nossa Bandeira Nacional 7 Torres. O CARBÚNCULO minou a I Republíca e continua a sua senda, como quem tivesse violado uma múmia egípcia.
O desvirtuar da raiz sagrada dos Brasões de Armas, numa abordagem de credo cristão, encontra razões no declínio das Ordens Religiosas e Militares, nos fluxos e refluxos dos períodos Renascentista, da Reforma e Contra-Reforma, na separação Igreja-Estado, na Revolução Francesa, na via anti-cristã de parte significativa da Franco Maçonaria e no materialismo racional dos Reis de Armas ou a eles afins. Mas as principais culpas surgem dos próprios Papas até ao Sec. XX. Vejamos um bosquejo deste historial, tão ricamente ilustrado na obra do Arcebispo Jaques Martin, “ A Heráldica do Vaticano”, Prelado da Cúria Romana até aos finais do séc. XX:
v O pai da Capela Sistina, o Papa Sixto IV(1471-1484), ao dar início ao século dourado do Sagrado Renascentista, verdadeiramente desenvolvido pelo seu sobrinho, o Papa Júlio II(1503-1513), com a mão de Miguel Angelo, viu toda a sua obra boicotada pelos Médicis, pela mão do Papa Alexandre VI, o Papa anti-Renascimento, prepotente na acção, sendo disso exemplo a feitura do Tratado de Tordesilhas sem ouvir Portugal, preparando-se D. João II para invadir Espanha.
v Esta família Medicis recebe do Rei de França, Luís XI, em 1465, o privilégio de passar a usar a Flor-de-Lys. Os Papas Médicis, LeãoX, Clemente VII, Pio IV e Leão XI, transportam assim para o Brasonário do Vaticano um símbolo alheio à missão papal, conquanto emblemático e sacro para o Brasão de Armas de França, sob a custódia do Arcanjo São Miguel, homenagem prestada pelo Papa João XXIII nas suas Armas, face à sua missão de Nunciatura no final da II Guerra Mundial neste país.
v O Papa Gregório XIII não só manda pintar nos frescos de Roma os massacres da Noite de São Bartolomeu, como faz entrar o Dragão Heráldico nas suas Armas, arquétipo alheio ao tradicional da Igreja de Roma, agravando-se a sua associação, com o Papa Paulo V(1605-1621) à Águia Imperial Romana, fazendo do seu Pontificado, pela mão do arquitecto Carlos Maderno, um reinado de esplendor e ostentação.
v Toda a Contra-Reforma, pela mão do Papa Alexandre VII(1655-1667) vai desvirtuar o místico inicial cristão, já muito abarrocado pelos Papas Urbano VIII e Inocêncio X, espalhando-se pela Europa Centro-Meridional uma acção-reacção de simpatia dos prelados pela nova concepção heráldica dos símbolos. É o século XVII de Bernini, o novo Miguel Angelo de Roma, um período onde Papas destroem obras de arte, chegando mesmo Bernini a reconstruir o que já havia feito. É erguido o famoso Trono de São Pedro, em bronze, são levantadas as 140 figuras dos Apóstolos, Papas e Bispos, onde hoje São Vicente deixa de ter a sua Barca na Praça de São Pedro
v Mas é a partir do Papa Benedito XIII(1724-1730) que todo o Brasonário Papal e os dos Dignatários da Igreja se complica. Os Papas começam a construir os seus Brasões de Armas à custa de três elementos, em simultâneo: Armas de família, Armas das Ordens de formação e as Armas de Títulos anteriormente usados.
v Exceptuando-se algumas Armas Papais no século XVII, como as de Urbano VIII, membro da Ordem de Cristo, com a evocação das Abelhas e as de Inocêncio X, o Papa do Ano Santo de 1650 e de Velasquez, evocando a Pomba do Espírito Santo e difusor na pedra do Angelical de São Tomás de Aquino, será o Papa Leão XIII(1878-1903) que irá por fim a um Brasonário mais falante que místico e sagrado, situação que até hoje se mantém, salvo com o Papa Paulo VI que enquadra as Armas da sua família Monttinni (montes desenhados) no traçado, havendo mais pureza sacra em Pio X, João XXIII e João Paulo II. Leão XIII foi desenterrar o sagrado profético de São Malaquias, com a Divisa prevista pelo Santo “UMA LUZ NO CÉU”, introduzindo-se pela primeira vez nas Armas Papais o cometa, uns defendendo que devia estar virado à direita, outros à sinistra, de qualquer forma um símbolo heráldico dos novos sinais dos Tempos, profetizado séculos antes.
Infere-se deste cenário de alguns séculos que a Europa dos heráldicos andou ao sabor do historial do credo cristão, mas dividido-se também o seu traçar por 3 grandes áreas de influência: católica, ortodoxa e protestante. As raízes medievas mantiveram-se muito tempo em Portugal até finais do sec. XV, por 3 razões principais:
· Uma ancestralidade alicerçada nas Ordens Monástico-Militares, influenciada também por cisterciences e franciscanos, com o rigor francês trazido por D. Afonso III, antes pelo Conde D. Henrique, alinhando o primeiro Brasonário de Portugal, cujo historial está bem documentado em 4 obras principais: Brasonário de Portugal de Armando de Mattos; Arquivo Heráldico-Genealógico de Sanches Baena; Armaria Portuguesa de Braamcamp Freire; Armorial Português de Santos Ferreira.
· Uma mito-história própria e ímpar na Europa, onde as Armas dos Reis e do Reino, como as das famílias e lugares, ligada à Fundação do país, faz brotar os feitos e lendas associados aos Árabes, depois aos Descobrimentos, tudo isto “semeado” pelas Cruzes das Ordens do Templo, de Cristo, de Avis, de Malta e de São Jorge, fazendo elas também parte das genealogias, como já mais tarde foram levadas pelos Corte-Real, nas suas “Armas de São Jorge” em naus de Cruz de Cristo.
· O contributo significativo, no séc. XIV, da Grande Loja de York, selada pelo casamento da filha do Duque de Lencastre com o Rei D. João I, ficando esta família, de origem inglesa, a ostentar o Escudo de Portugal encimado pelo Pelicano Sangrante. Quem não recorda o inglês Mestre Oughet a substituir Mestre Afonso Domingues, por cegueira, narrado por Alexandre Herculano?. A sublimação dos conhecimentos heráldicos deste espaço-tempo está no Mosteiro da Batalha, nas Armas de D. João I, rodeadas pelo círculo Divino, irradiando pelos 16 rumos, metade dos 32 da Rosa-dos-Ventos ainda existente em Sagres.
É com o primeiro casamento real da II dinastia, entre a filha de D. João I e Filipe, o Bom, Duque da Borgonha que surge uma das mais enigmáticas Armas do Mundo: a Ordem do Tosão de Ouro. Para uma mito-história de Ourique, onde o Ex-Libris em muitas Armas são os escudetes, com diferentes besantes, surge deste casamento a mito-história da ilha do Ouro, cujo escudo nos remonta à lenda da Europa, cavalgando o Touro, mas também o seu Colar nos dá a esperança de alcançar a Pele do Carneiro. Napoleão Bonaparte, após a batalha de Wagran, criou a Ordem Imperial dos Três Tosões de Ouro, na esperança de que o seu Império durasse como o português ou como o Império Carolíngio, fazendo-se coroar, na tradição dos Reis Lombardos, na Catedral de Milão, no Pentecostes de 1805, com a sua mais funesta frase de Imperador: “Dieu me l’a donné, gare à qui la touche”. Em vão.” Extinta” a Legião de Honra, esta nova Ordem de 100 Grandes Cavaleiros, 400 Comendadores e 1000 Cavaleiros, para feitos de guerra, só dura de 15 de Agosto de 1809 a 27 de Setembro de 1813. Por morte de Carlos, o Temerário, a Ordem de França passou à Casa de Austria, fundando o Império Austriaco. Carlos V, casando com Isabel de Portugal, funda também o seu Império trazendo para Espanha esta Ordem, a primeira da Cavalaria do país. O Império de Espanha cai com as Filipinas, essas Terras de Magalhães, próximas da Ilha do Ouro.
Serve este exemplo, em historial sintético, para dizer quão é importante o avocar de um Brasão de Armas, cuja jóia fundamental é o Escudo. Ele divide-se, por numerologia sagrada:

4 9 2 1 2 3
3 5 7 ou 4 5 6
8 1 6 7 8 9
. A sequência 492 é o CHEFE, sendo 816 o CONTRA-CHEFE. A DIREITA do Escudo é 438 e a sua SINISTRA é 276. O centro SAGRADO é 10, entre o 9 e o 5, logo abaixo do 9, cujos equílibrios vão parar ao abismo se não conseguidos. Em heráldica de Espanha, a linguagem ainda lhe chama “punto del abismo”. À medida que os Arquétipos são mais evocativos e se reportam a um país ou a elevadas Escolas Iniciáticas os cuidados a ter são maiores. Tenho visto Armas de pseudo Iniciados que mais os destroem, a si e à família, que os desenvolvem no saber iniciático. Vejamos algumas Ordens de elevada matriz Nacional:
Ordem de Saint-Michel e Du Saint-Espirit, da França.
Ordem da Jarreteira, da Grã-Bretanha.
Ordem dos Serafins, da Suécia.
Ordem do Elefante, da Dinamarca.
Ordem de Santo André, da Rússia.
Ordem da Águia Negra, da Prússia.
Ordem de Santo Humberto, da Baviera.
Ordem de São Jorge, de Saxe.
Ordem de Cristo, de Portugal.
Ordem de Sant’Iago da Espada, de Portugal.
Ordem da Torre e Espada, de Portugal.
O traçar das suas Armas não pode ser deixado a um profano ou descrente das leis sagradas, a um laico com visão restrita das regras heráldicas ou com o universo limitado da estética. O resultado prático, na Ordem citada de Portugal, é ostentar-se um colar com o PENTAGRAMA invertido, não fosse já o liminar da sua origem das ambições de D. Afonso V que destruíu a descendência real e veio a tornar a corte de D. Manuel I como a mais corrompida da Europa, talvez por isso levasse alguns séculos a ser retomada, trazendo um devir funesto ao país. Os Governantes de hoje já não estudam Pitágoras que considerava o hexágono como símbolo da Criação, o Macrocosmos, e o pentágono como símbolo da Terra, o Microcosmos. Sem nos alongarmos muito, o talismã preferencial continua a ser o “sino-saimão”, a meia-lua, a figa, o corno e o pentagrama, este jamais invertido, violação não cometida no pórtico de Santa Maria do Olival, em Tomar, nas moedas de Roma, nas moedas arábicas ou nos “dinheiros” de D. Afonso Henriques. O emblema de Vishnu que é o Selo de Salomão não mudou. O Pentalfa que a NASA desenhou para dizermos aos viajantes do Espaço quem somos também foi desenhado por Mestre Almada Negreiros.
Este cenário de mudanças aberrantes perante o Sagrado ainda hoje se passa na Franco-Maçonaria Portuguesa, uns substituindo o Triângulo Sagrado de Santiago, já lá vão quase 100 anos, talvez imitando o feroz Combismo, outros invocando arquétipos de humanos que de Sagrado e de Mito nada transmitem, ou se o emanam ninguém respeita o seu ARQUÉTIPO, talvez porque as raízes do Sagrado de Portugal, das suas Ordens e Mito-História tenham uma carga de mais Luz que é preciso esquecer, enaltecendo-se em Ordens figuras sem lustre de vivência Iniciática , como Gomes Freire de Andrade, ousado só no posto de General, ou procurando-se Patronos, como Mouzinho de Albuquerque, para a Arma de Cavalaria dos Exércitos de Portugal, destronando São Jorge, ele que violou o mais Sagrado da simbologia: o não direito sobre a Vida, o suicídio. Outrossim se passou com o Arquétipo do Escudo Nacional nas moedas do euro. Um qualquer júri aprovou a transformação do símbolo Nacional numa roda, imaginando, talvez, 7 Castelos( hoje Torres) mais 5 Escudetes igual a 12 estrelas da Europa. Soubessem eles as regras ocultas ou secretas da heráldica, ou pelo menos houvessem chamado alguém das Academias Heráldicas ou Afins, e ter-se-ia evitado algo que vai ser semelhante à senda do Tosão do Ouro.
O atrás descrito nos levanta a questão da principal chave da ciência e arte heráldica que não é só restrita ao traçar de Brasões de Armas. Dizia um livro desta área, que os primeiros Reis-de-Armas surgiram no reinado de D. Manuel I, João Rodrigues, João de Cros e António Godinho. Faltou acrescentar: directamente dependentes do Rei para começarem a libertar-se das exigências das Ordens de Cristo, de Santiago da Espada e algumas outras, onde os seus Reis-de Armas sempre existiram.
O ostracismo a que é votada a heráldica hoje em dia pelos Estados, é francamente confrangedor. O mesmo se passou com o Exércitos de Portugal pós Conde de Lippe, Cavaleiro Teutónico Alemão, até se criarem Gabinetes de Heráldica já nos finais do séc XX, com contributos muito positivos para o imaginário sagrado das tropas, assessorando ainda muito a heráldica de Forças de Segurança, de Organismos e Edilidades. Mas, numa apreciação castrense, o que estava inicialmente dependente do Comandante dos Exércitos deixou de estar e os crivos decisórios regem-se por despachos e opiniões de ignorâncias do saber, tudo se arrastando para uma crise das Forças Armadas, onde muitos ostentam um Escudo no peito, à sinistra, sem conhecer o FOGO-MENSAGEM do Brasão de Armas donde Ele emana. Longe já começam a ir os tempos em que os pescadores bordavam nas suas camisolas de lã o Brasão popular de família, encontrando-se a sua Divisa ligada ao nome do barco a que pertenciam.
Diz-se que a guerra é demasiado importante para estar na mão dos militares. O Papa Leão XIII achou que os símbolos heráldicos sagrados eram demasiado importantes para estarem abandonados. Um dia os políticos saberão que o seu poder só é duradouro, sem guerra, quando os símbolos ancestrais do Sagrado forem de novo activados. Hitler procurou em Tomar o novo Tosão de Ouro, mas nada viu. Hoje os seres humanos estão ainda mais cegos, mas Alenquer, por exemplo onde estamos, continua a ter Armas de Santa Isabel e do Islão. Então já a Ordem de Cristo, antes chamada do Templo, sabia que também Osíris tinha sido esquartejado em 14 pedaços, tantas as Rosas de Alenquer, tantas as freguesias que floriram, por Arquétipo, nesta Vila do Presépio, de matriz Franciscana, esse Brasão da Sagrada Família, também ele criado na Gruta Grega da Basílica de Esquilino, no séc. IV, 4 séculos esquartelados após a Gruta de Belém, em terras de Jasão, do Agnus Dei do Tosão de Ouro, renascido em Portugal.
É por isto, por Arquétipo Celeste deixado por S. Francisco de Assis que estamos mais perto do PORTO DA LUZ, lugar de Alenquer.
BEM-HAJAM por me terem escutado.
FELIZ NATAL, com o Presépio de Alenquer.


Os celtas e os Cristãos por Joao Fernandes (membro da Tertúlia)

Bar do Além, Tertúlia de 15 Março de 2003
Palestra do Coronel João Santos Fernandes


OS CELTAS E OS CRISTÃOS

Em toda a História da Humanidade sempre houve e haverá uma única Matriz Espiritual dos Povos, a qual se vai metamorfoseando em diversas religiões ou credos de fé, nos sucessivos ciclos evolutivos de Raças e sub-Raças, moldada por Seres Superiores, descidos ou não à Terra, tudo em nome de um Deus ou de Deuses, conforme os Tempos, local geográfico ou culturas existentes.
Assim aconteceram Messias, Profetas, Xamãs, Iluminados, Avatares, Aparições ou cultos da Natureza para o desenvolvimento espiritual do ser humano. Semi-deuses, heróis, magos, sacerdotes, monges, apóstolos, teólogos, santos, pastores, ascetas, pregadores e reis irradiaram depois um ideal de Fé, com mais ou menos ardor, pela palavra e/ou pelas armas, convertendo povos, através dos seus chefes ou governantes, procurando a expansão de uma nova Mensagem.
Falharam a maioria das religiões, até hoje, por três causas principais:
· A própria natureza do ser humano, longe de estar liberto dos vícios da matéria.
· O enfatizar da explicação do Caminho para o seu Deus, em vez de se potenciar a Verdade de que Ele está dentro de nós mesmos.
· A dogmatização demasiada da Fé e da Esperança, face à Mensagem da Trindade do Logos Manifestado (todas as religiões se baseiam numa Trindade) que pretende religar a evolução do ser humano, quase sempre com nexo causal com o acentuar do distanciamento das raízes da Mensagem, secularizada pelo poder eclesiástico.
Tudo isto se complica com os diversos «ismos» da mesma Mensagem difundida, apresentando a Cristã três polaridades principais: católica, protestante e ortodoxa.
Vamos restringir a análise à realidade geográfica Europa-Ásia dos dois últimos milénios, herdeira de 3 pilares importantes:
· A Matriz indo-asiática e indo-europeia. A primeira centrada no hinduismo, xintoismo e budismo. A segunda centrada no odinismo, alastrando da Ásia ao Mar do Norte (zona dos Curganos), venerando os Deuses Ases (daí o nome de Ásia), dando origem aos povos celtas. A escrita mais relevante foi o sânscrito, o rúnico e a de ideogramas.
· A Matriz afro(N)-asiática(Menor), com as Divindades dos Impérios da Antiguidade até Cristo (Assíria, Pérsia, Egipto, Grécia e Roma). Independentemente da denominação dos Deuses, sendo os principais uma Trindade, predominava o culto pela Grande Mãe da Humanidade. A escrita teve uma evolução gráfica (excepto a hieroglífica), de cuneiforme à latina, mas com cambiantes diversas: aramaico, cirílico, árabe e copta, principalmente.
· A Matriz restrita da Ásia Menor-Egipto, ligada ao Antigo Testamento e às diásporas das Tribos até ao Novo Testamento, de onde emergem 3 ramos principais: judaísmo, islamismo e cristianismo. Três são as figuras emblemáticas: Abraão, Moisés e Cristo. Mais tarde juntar-se-á a figura do Profeta Maomé, sedimentando-se o islamismo.
Vamos dar um salto na História até à institucionalização do cristianismo como religião oficial do Império de Roma. Só passados 3 séculos, em 313, é que é lavrado o Édito de Milão para este efeito.
Tinham-se miscigenado festividades, tradições, efemérides e cultos de outras civilizações no cristianismo, sobretudo de origem greco-romana, egípcia e bretã. Roma já estava na sua fase de decadência, com uma degradação moral da sua sociedade. Serão precisos ainda mais 100 anos, sobre o Édito de Milão, para que o Imperador Honório decretasse a expulsão e confiscação dos bens a todos quantos não cumprissem a fé oficial decretada: o Cristianismo. Tinham passado 400 anos após Cristo.
Então qual é a realidade dos séc. IV e V na Europa cristã?. Vejamos, em traços gerais, como estava a Mensagem de Cristo:
v O apostolado de São Martinho de Tours dá à Europa o primeiro Mosteiro, em 360. Após o ter fundado ele é já Abade e Bispo em 371. Esta dualidade de cargos ajudou a expandir a fé cristã nas Gálias. A separação dos dois cargos iria provocar muitas clivagens no cristianismo, uma «luta» entre Abadia e Catedral. O primeiro Bispo gaulês de Lyon, capital das Gálias, lutava por uma pureza cristã, não papal e romanizada. O seu nome, Ireneu, de origem grega, espelhava também o seu pensamento helénico. Para muitos a Grécia cristã era o berço da incubação religiosa, sendo disso estandartes São Paulo (judeu, cidadão romano, de cultura e escrita grega), São João (desterrado na ilha de Pathmos, no mar Egeu, onde terá tido a Revelação do Espírito Santo), Santo André (o Protókletos de Cristo, evangelizador do Peloponeso, morrendo mártir na cidade de Patras) e o dogma da Natividade, reactivado pelo Concílio de Éfeso, o qual, com o dogma da Trindade, cativaria toda a cultura nórdico-celta.
v O cristianismo na Grã-Bretanha desenvolveu-se nas regiões não ocupadas pelos Romanos, na Escócia (cujo Patrono é Santo André) e na Irlanda, sendo disso expressão a presença de Bispos bretões no Concílio de Arles, em 314, um ano depois do Édito de Milão. Lenda ou mito, realidade ou ficção, é um facto que o primeiro Bispo da Ilha Bretanha se toma por José de Arimateia, tio de Jesus, comerciante de estanho, viajando assim para fabricar o bronze. O simbolismo do Sangue de Cristo, recolhido em Cálice, por José de Arimateia, será semente para a futura lenda do Santo Graal e do Rei Artur, depois sabiamente explorada pelo Império Plantageneta.
v São os tempos de São Patrício, Apóstolo da Irlanda. Bispo enviado para o Ulster, em 432, pelo Papa Celestino, ele era um bretão, filho de um decurião do Exército de Roma. Raptado aos 6 anos de idade, torna-se discípulo de um Druída. Fugiu anos depois, mas aprendeu toda a cultura celta, a qual, na sua vertente sacerdotal, pouco ou nada tinha de tradição escrita, pois todo o conhecimento iniciático era transmitido oralmente.
v São os tempos de Santa Brígida, Patrona da Irlanda, entre 450 e 525, recebendo o véu do Bispo Macaille. Funda o Mosteiro Kildare (leia-se Igreja dos Carvalhos), continuando a tradição dos Mosteiros mistos, proibidos pela Igreja de Roma. Séculos mais tarde, por ironia das religiões, todas estas raízes e posturas vão ser apoiadas por Roma contra o anglicanismo, consolidado por Isabel I e por Oliver Cromwell, causas remotas de uma realidade de hoje entre o litígio Irlanda-Inglaterra.
v São os tempos de Pelágio, herdeiro dos saberes dos Santos do Mosteiro de Lérins (Hilário, Bispo de Poitiers, Loup de Troyes, Cesaire d’Arles e de Honorat, Bispo de Arles), instruídos, como ele, no Arquétipo cristão do Mosteiro de Marmoutiers, fundado por São Martinho de Tours. É desta «corrente» de Pelágio, do centro-norte cristão, que se vai estabelecer a “guerra” com Santo Agostinho, apoiado por Roma. Apesar do Papa Inocêncio ter excomungado Pelágio, logo a seguir o Papa Zózimo vai reabilitá-lo, brotando a “raiva” de Santo Agostinho na sua mais célebre frase:baptize-se primeiro, explique-se depois.
Na discussão teológica Pelágio-Agostinho encontramos a principal raiz cristã divergente celto/bretã-romano/latina que irá moldar, a partir do séc. V, todo o cristianismo (a azuleijaria irá representar Santo Agostinho, sentado em carroça triunfante, esmagando o corpo de Pelágio, veja-se o painel de azulejos da Sacristia do primeiro Mosteiro Jesuíta do Mundo, na Igreja da Senhora do Socorro, em Lisboa, doado por D. João III em 1542). De igual modo, similares clivagens nascerão entre Ordens Monástico-Militares, como Templários-Cátaros e Templários-Teutónicos, mais tarde na Reforma e Contra-Reforma. Mas vamos abordar as mais importantes divergências de Pelágio e Santo Agostinho:
Ø O Criador, para Pelágio, deixa o ser humano entregue à sua sorte. Não era Eva o símbolo do pecado, mas sim Adão, como uma Queda dos Anjos do Livro de Henoch. Uma batalha antiga como no odinismo, entre os Deuses Ases e Vanes, similar em todas as mitologias. Feito à imagem e semelhança de Deus Manifestado, ambos possuem a dualidade Bem-Mal, Luz-Trevas. O modo de vergar a «consciência» de Deus é pelo jejum, prática ancestral hindu (prayopavesana), praticada por todas as religiões, mesmo na simbologia material de Gandhi contra os ingleses, no séc. XX, ou pelos militantes do IRA, seja como recurso do que não se consegue obter, a greve da fome.
Ø Para o pensamento odinista é inaceitável o conceito de inferno. O cristianismo propaga-se na cultura nórdico-celta-germana porque Jesus Cristo, ao morrer, faz ressuscitar o dogma druída de que a morte é o meio de uma longa sucessão de vidas, permanecendo Ele na Terra, após a Ressurreição, 40 dias, período sagrado para a contagem celta. A descida aos «infernos» de Cristo é vista como a visita ao Reino dos Mortos (Reino de Hel), por duas noites ( matriz lunar, oposta à solar de Orfeu e Osíris, por um dia), encaixando no mito de Balder, o Deus nórdico, arrastado ao Reino de Hel por Loki. Para ultrapassar este diferendo do conceito de «inferno», imposto por Roma, o cristianismo irlandês inventa o conceito de «purgatório» que é aceite pela doutrina cristã-católica.
Ø As cerimónias do baptismo e da confissão, para além da tonsura, foram concessões mútuas entre os dois cristianismos. Roma aceita a confissão de origem germano-celta, auricular, um alívio para os embaraços que já causava a confissão pública. Maior resistência ouve com o baptismo, por parte dos Bispos bretões e alguns Abades do centro-norte da Europa, quanto ao tempo (idade), modo e significado para esta cerimónia. O baptismo de Cristo para uns era o fim de uma etapa iniciática de formação, outros viam uma aceitação consciente de purificação e entrega, esgrimindo sempre com a idade do baptismo de Cristo. Prevalece a argumentação de Santo Agostinho, possivelmente cedendo a outras diferenças que ainda hoje marcam rituais de ortodoxia cristã.
Ø Certo é que a condenação de Pelágio, lavrada pelo III Concílio de Éfeso, em 431, se prendeu apenas com o facto de ele negar a necessidade da graça e por ter defendido contra Nestório a unidade de pessoa no Cristo e a maternidade divina de Maria que daí procede. Com a morte de São Patrício no dia 17 de Março de 461 (Festa Nacional na Irlanda) tudo ficou diferente para sempre.
Os séculos seguintes levantariam mais questões de jurisdição eclesiástica entre Abades e Bispos, mesmo entre dioceses, face a independências e consolidação de fronteiras (como sucedeu em Portugal), mas a única Matriz Espiritual do Mundo iria enquadrar toda a liturgia cristã nas divisões emergentes da quadratura de equinócios e solstícios, acertados lunarmente, como o já expressavam a gnose germano-celta, derivada do Arquétipo da Árvore Yggdrasill e da gnose judaico-clássica, derivada de Moisés e do Arquétipo da Árvore da Vida hebraica, de saber Essénico. Vejamos, com exemplos mais conhecidos de todos, uma síntese do que atrás se disse:
q A simbologia das “Árvores” expressam o mesmo número de esferas (sefirotes), um total de 10. A nórdica Yggdrasill representa-se por 9 esferas, estando a 10ª oculta (Upgard), integrando os 7 Mundos suplementares. Todas as Ordens Religioso-Militares, de raiz Templária em Jerusalém, vão perpetuar este octógono de Construção, nos seus símbolos e graus, mesmo no erguer dos seus Templos, como o irão fazer os arquitectos de Mosteiros e Catedrais. O septenário dos Mundos, são os 7 dias da semana e da Criação, os 7 Véus do Templo com o candelabro de 7 Braços, as 7 das 10 Esferas da Árvore da Vida que correspondem à Formação-Criação-Emanação (as 3 restantes respeitam à Acção), tal como se constrói o ser humano nos seus 7 vórtices de energia (vulgo chackras), estando o 8º em seu redor. A Cavalaria Espiritual de Alá ou Hierarquia Sufi irá estabelecer 50 Graus evolutivos, tantas as Portas de Luz da Árvore da Vida. Hoje a ficção de Tolkien nos dá a saga do Senhor dos Anéis, todo um mito emanado da Árvore Yggdrasill. Mas sempre o anel foi símbolo de domínio/poder e amor/sabedoria. Dos Prelados aos Cavaleiros das Ordens, da Realeza aos Lentes, tudo é selado como no anel do casamento, usado este em dedo de Apolo, Deus do Sol. Cristo, Sol da Vida. Deixemos alguns exemplos para meditar: o Templo de Delfos não seria o Templo dos Elfos?; o receptáculo de bronze de 12 bois (1 Reis, 7-23) fundido por Hiram, não seria similar ao tanque da Fonte Hvergelmir, da Esfera Nifheim, do Mundo das Brumas?; deste Mundo nórdico não saem os mitos das Brumas de Avallon, a ilha das Maças de Ouro?; Portugal não tem o mito do Encoberto, tal falsamente associado a D. Sebastião?; o Mundo dos Gigantes nórdicos (Esfera Jotunheim), como os Ciclopes de Hércules, não será arquétipo de David-Golias?.
q O que Júlio César não conseguiu ao fim de 10 anos de guerras com as Gálias, fê-lo a Virgem Maria depressa. O símbolo da Grande Mãe das origens odínicas era a Deusa Dana. Por sua Mãe se chamar Ana (Santa) a penetração e conversão cristã foi um «milagre», tanto mais que os seus antigos Deuses se chamavam Tuatha Dé Dannann (hoje temos as histórias de Connan) e eram simbolizados em Trindade, no Triskel, a tríplice espiral ou o tríplice triângulo (símbolo da molécula ADN). A Virgem Negra da Catedral de Chartres, destruída pelos republicanos no séc. XVIII, é a expressão continuada de um culto nórdico que está longe de estar extinto. Lembremos ainda a simbologia sagrada das árvores: o freixo nórdico ou o carvalho celta; a oliveira cristã ou a figueira budista; a acácia da Arca da Aliança e o cedro do Templo de Salomão; o pinheiro do Natal.
Abordemos, em sequência, a liturgia cristã no que ela tem de correspondência às divisões por equinócios e solstícios, acertos lunares e datações solares. Desde a Antiguidade até à Idade Média que o todo económico e social dependia de dois pilares principais: a pastorícia e a agricultura. Assim o Inverno e o Verão eram os marcos principais, como o eram as sementeiras e as colheitas. A divisão quaternária das estações do ano fixavam festividades, rituais, efemérides, celebrações e forais, originando ainda estes 4 «braços», como pontos de contagem, a 4 divisões principais do ano celta, tomadas a partir de 40 dias, antes ou depois, de cada equinócio ou solstício. Assim:
q Divisão principal: dias 1 de Novembro, Fevereiro, Maio e Agosto
q Divisão secundária: dias 11 de Novembro, Fevereiro, Maio e Agosto.
Antes de analisarmos estas datas importa dizer que 40 é um número místico por excelência, não cabendo aqui a sua análise. São os 40 anos de deserto, com Moisés. São os 40 dias de deserto, com Cristo. São os 40 anos de Maomé, com a Revelação do Arcanjo São Gabriel. São, no conto infantil, Ali Bábá e os 40 Ladrões. Em suma, é a Quaresma espiritual e a Quarentena física ou da medicina.
Era lógico que novas religiões fossem cativar estes marcos para os seus fiéis. É este cenário que agora nos vai ocupar. Assim:

v DIA 1 de NOVEMBRO:
Festa de Fim de Verão, atribuída a Samain. Dia de Ano Novo celta. Evocação da comunicação vivos-mortos. Dia do Reino de Hel, raiz ancestral do actual Halloween, Reino da Morte da Árvore Yggdrasill. Para a Igreja de Roma é o Dia de Todos-os Santos, com o sequente Dia de Fiéis Defuntos. A memória dos povos, neste culto dos mortos, apenas sofreu influência de Roma na proibição da embriaguez destes dias que «facilitava» a «comunicação». Mesmo assim tal prática vai ser adiada para 11 de Novembro, Dia de São Martinho de Tours (40 dias antes do solstício), antes dedicado ao filho de Odin, o Deus Thor, gigante e bebedor, Deus da guerra, do trovão e do raio. São Martinho também tinha sido, por imposição do pai, soldado do Exército de Roma, até aos 22 anos. A sua capa, símbolo da Protecção da França, era levada à frente dos Exércitos, servindo, em tempo de paz, para prestar juramentos solenes, dando nome ao oratório que a guardava. Hoje as pequenas igrejas chamam-se, por isso, capelas.
Outrora não se circulava pelos caminhos, nas duas noites do Ano Novo, senão a pé, para não atropelar os mortos. Os túmulos eram deixados abertos (Irlanda) e as actuais festividades comerciais do Halloween mais não fazem que revivificar este culto, tendo, no entanto, consequências funestas para quem as pratica sem espiritualidade. “Susto ou Prenda” tinha idêntico vector no “Pão por Deus”, no “Tostãozinho pró Santo António”, na dádiva ao “corcunda” (afagando as costas), mesmo na moeda atirada às fontes celtas. Ainda hoje nos EUA todas as eleições têm lugar após a semana do Halloween, em 3ª feira, um ritual reactivado pela «Nau Mayflower», a nossa «Nau Catrineta» ou «Barca Bela». O Presidente Roosevelt tenta contrariar apenas a tomada de posse dos Presidentes, para obviar à profecia de morte que recaiu neles desde 1840 (de 20 em 20 anos), mudando de Março para Janeiro tal acto. Em vão tal esforço. O que foi jurado por George Washington sobre a Bíblia não pode ser alterado. Basicamente disse o 1º Presidente que os EUA não deviam interferir com a Deusa Europa.
v DIA 1 de FEVEREIRO:
Festa da Pureza e do Elemento Ar, atribuída a Imbolc. Deus que talvez fosse Loki na tradição odínica, pois desconheço melhor explicação. É um facto, no entanto, que era o tempo de exorcismos, de renovação, de lavagens de mãos, pés e cabeça. Deus Loki, o Set egípcio que leva à morte Osíris, levando à morte Balder no Reino de Hel, identifica-se com igual período das Festas ancestrais de Perséfone, com os sacrifícios a Plutão ou Feburius, daí Fevereiro.
Para a Igreja de Roma é a Festa da Purificação da Virgem Maria e da Apresentação de Jesus ao Anjo da Aliança, uma Lei Mosaica que obrigava a que 40 dias após o nascimento as mães levassem os seus filhos ao Templo, ofertando 1 cordeiro ou 1 pomba, conforme a sua riqueza. Se esta Festa é a 2 de Fevereiro, para cumprir os 40 dias pós 25 de Dezembro, este dia fecha o ciclo santoral do Tempo após a Epifania. Colocou a Igreja de Roma a 1 de Fevereiro o mais simbólico Santo da morte: Santo Inácio. Algemado e entregue às feras, nas perseguições do Imperador Trajano, este 3º sucessor de S. Pedro, simboliza para os cristãos a morte perante o Mundo e nós mesmos, sendo testemunho que Cristo está em nós.
Ainda neste tempo, celebra-se a 3 de Fevereiro o Dia de São Brás (Blasius ou Blaiser, o Sopro do Fogo), simbolizado com 2 Velas acesas, em «aspas» ou Cruz de Santo André, o Patrono da Escócia e da Rússia. Benze a Igreja as Velas para serem usadas no leito dos moribundos, nas tempestades e nos perigos de toda a ordem. A Mensagem cristã do dia seguinte, dos 2 lobos (e 2 corvos) que acompanhavam o Deus Odin, está em dia de Santo André Corsino, Bispo de Fiesole, falecido em 1373. Sonhou sua mãe que tinha dado à luz um lobo que logo se transformou em cordeiro, ao entrar na Igreja dos Carmelitas. A Mensagem sagrada da Purificação é : lobos pelo pecado, sejamos cordeiros pela penitência. Este Santo foi desordeiro na juventude e prudente após entrar para a Ordem do Carmo. Os corvos de Odin estão em São Vicente.
Mais curioso se torna o Dia 5. Dedicado a Santa Ágata ou Águeda (cidade de Portugal), ela é a Virgem Siciliana, Padroeira das mães jovens e violadas, também das amas de leite. Diz-se que em 251, em Catana, o Governador Quintiano a tentou violar. Não o conseguindo lhe mandou dilacerar peito, logo curado por S. Pedro. Morreu, orando, após o seu corpo ser rolado sobre carvão incandescente, misturado de agudas pedras. Ainda hoje os italianos acreditam que o seu manto pode acalmar o vulcão Etna, o Fogo da Deusa Europa. Talvez seja o Arquétipo de Melusina, a Serpente, que volta para amamentar os seus filhos.
Para fecharmos as Festividades de Fevereiro recordemos que a 11 de Fevereiro de 1858 (40 dias antes do equinócio) surge a Virgem de Lourdes. Neste Dia diz o Missal: “...A festa de hoje recorda o triunfo de Maria sob a serpente a que se refere a liturgia septuagesimal.”. Por 18 vezes (Arcano Maior Lunar, com os dois lobos de Odin, em Tarot) desce esta Virgem na gruta do rochedo de Massabielle até 16 de Julho, Dia que também já lhe era Consagrado, como Virgem do Monte Carmelo, desde 1245, quando aparece a São Simão Stock.

v DIA 1 de MAIO:
Mês da Deusa nórdica Idunn, guardiã das Maçãs de Ouro (Maçã de Eva), do rejuvenescimento e da imortalidade. Os celtas iriam restringir o Arquétipo nórdico às Festas de Beltaine, ou do Fogo de Bel. São Patrício, Apostolo da Irlanda, transportou este Fogo para a Vigília Pascal. Outrora acendiam-se fogueiras, saltando-se sobre elas e o gado era levado às proximidades das chamas para ficar fértil e sem doenças. É o mês de Maria e do Fogo do Espírito Santo que desceu sobre os Apóstolos. Tempo de castidade, sendo desaconselhável os casamentos neste período.
Era o mês de eleger a Rainha de Maio coberta de flores, escolhendo-se donzela ou rapaz, símbolo de andróginia, castidade e Natureza. Tal prática foi sendo proibida, mas subsiste na Suécia, Tirol, Pirinéus, Borgonha, Alemanha e Portugal (no Algarve as refeições do 1º de Maio são ao ar livre). Conservamos destas Festividades, semelhantes aos Mistérios de Eleusis, onde a Deusa Deméter era a Deusa do Trigo, o Dia da Quinta-Feira da Espiga, em ramo de floração de Maio e da oliveira, Tempo do Espírito Santo que antecede o Domingo da Ascensão.
A imagem da noite anterior ao 1º de Maio é a da noite de Fausto de Goethe, a noite de Walpurgis. Coincidência litúrgica do Dia de Santa Catarina de Senna, a donzela que faz terminar a longa noite de Avignon de 70 anos, «obrigando» o Papa Gregório XI a voltar a Roma, tantos os anos do cativeiro dos judeus na Babilónia. Mas o mais relevante das Festas de Maio que persiste é a Árvore de Maio. No 1º dia subia-se às montanhas para colher a árvore mais direita (freixo, choupo, pinheiro ou abeto), sendo posta a secar, depois de desramada, no centro da paróquia, para ser queimada, por padre, monja ou frade, na noite de São João Baptista, a 23 de Junho, a cristianização dos Fogos de Beltaine. A Igreja de Roma ainda hoje, liturgicamente, a 3 de Maio, abençoa Cruzes e Varas, saídas do desramar das árvores, um ritual instituído pela Imperatriz Helena, mãe de Constantino, que se designa a Invenção da Verdadeira Cruz.
Falar hoje de Fátima, a 13 de Maio, é ainda recuar a algo de mais profundo nesta polaridade sagrada e oposta 1 de Maio-1 de Novembro. A primeira «Fátima» é de 13 de Maio de 610, data decisória do Papa Bonifácio IV ao transladar todos os restos mortais dos Mártires das Catacumbas para o Templo de Agrippa, o Pantheon dos Deuses criado por Augusto, consagrando-o à Virgem Maria e aos Mártires. Em 835 o Papa Gregório IV (também IV) fixa a data para o Dia 1 de Novembro, de Todos-os Santos. A Virgem de Fátima de 1917 advertiu para o martírio perante novos Imperadores, por isso chorou o Papa João XXIII e dedicou o Concílio Vaticano II (40 anos em 2002) à Padroeira de Portugal, encerrando a I Sessão a 8 de Dezembro, Dia da Mãe.

v DIA 1 de AGOSTO:
Mês dos rituais de casamento, da fertilidade das searas e dos rebanhos. Mês da metamorfose do Deus Lug casando com a Irlanda. São as terras de Lugo, geografia celta de Compostela (Campus Stella-Campo da Estrela), de Sant’Iago, implantação da Peregrinação do Ocidente, raízes da Lugúria portuguesa e genovesa, braço-dado dos Descobrimentos.
É o mês e o dia 1 do deus nórdico Heimdall, o Vigilante da Árvore Yggdrasill, Porteiro entre o Mundo dos seres humanos e dos Deuses, associado ao Deus Ermin ou Irmin, resultando para o cristianismo a palavra Ermida ou Capela dos Bosques ou dos ERMOS. Até passado recente, dedicava-se o dia 1 de Agosto ao Vigilante, Porteiro das Chaves, dos Céus: São Pedro. É hoje o mês dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, nome da Basílica de Roma. Evocam-se as Cadeias de Pedro e os Anéis de Paulo.
As primeiras, de 2 pedaços, têm 44 elos alongados, sendo 11 destinados a ligar as mãos e 23 terminados em 2 semicírculos para pendurar o pescoço. Os Anéis de Paulo eram 4, usados no seu cativeiro em Roma. Limalhas destas relíquias eram ofertadas pelos Papas em ocasiões de muita solenidade.
Era o mês da Morte mística da Deusa celta dos alimentos, Tailtin, terminadas as colheitas, dando origem à cidade de Tailtown, do Rei da Irlanda. É também o mês dos 2 mistérios mais emblemáticos da liturgia cristã: Transfiguração de Cristo (6 de Agosto) e Assunção de Maria (15 de Agosto).

Para finalizar esta miscigenação espiritual importa recordar que o cristianismo é um ritual assente na matriz lunar. Embora o início do ano liturgíco tenha tido, nos primeiros séculos, diversas datas ( Festa da Anunciação em Março, depois em 18 de Dezembro, face ao Concílio de Toledo em 665; variação do número de Domingos do Advento, conforme as liturgias nestoriana, ambrosiana e mozarabica), o Advento actual é de 28 dias lunares ou 4 semanas, sendo o 1º Domingo o mais próximo da Festa de Santo André, a 30 de Novembro, intervalo que recai entre 17 de Novembro e 24 de Dezembro. Sendo o início a 17, é este dia dedicado ao «Semi-Deus» da Igreja de Roma, que o cognomina de Taumaturgo: São Gregório (200-276).
Toda a liturgia gira à volta da Festa Principal, a Páscoa. Celebra-se sempre depois do 14º dia da Lua de Março, contado este dia a começar a 21 de Março (equinócio). Havendo lua cheia antes de 21, a lua pascoal é a seguinte. Daqui resulta que os limites da Páscoa variam entre 22 de Março e 25 de Abril. A Ascensão de Cristo será sempre em Lua Nova e o Tempo depois do Pentecostes não ultrapassa os 28 Domingos (mínimo 23/24). A dualidade ritual de 12 meses sintetiza-se assim:
v Vida de Jesus (6 meses): Advento, Natal, Septuagésima, Quaresma, Páscoa e Ascenção.
v Vida da Igreja (6 meses): Pentecostes, S. Pedro/S. Paulo, Assunção, S. Miguel, Santos Anjos e Todos-os-Santos.
É todo um ritual de sacrifício e dádiva, traduzido na palavra nórdica blòt, em inglês blood, em germânico blut, simbolizado no sangue de Cristo, derramado pela Humanidade. Este sacrifício deve evitar o Apocalipse (Revelação) ou Ragnarok nórdico, o combate opondo as Forças da Luz às Forças das Trevas. Na mitologia odínica, o Deus Odin esteve pendurado, por 9 dias e 9 noites, na Árvore Yggdrasill, para aprender o Segredo das Runas (ficando sem uma vista na Fonte Mimir, o preço pago aos Gigantes da Esfera Jotunheim). Agitado pelo vento, foi ferido por uma Lança, ou Lança de Longinus que atinge Cristo na Cruz. No Arcano Maior 12, o Enforcado, número dos 12 Apóstolos, dos 12 meses, as pernas desenham a Cruz e os braços a Trindade. Assim foi crucificado Pedro.
O ritual da morte teve, na Antiguidade, um significado mágico que hoje não se compreende. Emblemático com o filho de Abraão, o ritual da morte era nobre através de objecto cortante, mesmo no harakiri. A morte sem lamina ou lança era considerada humilhante. Pôncio Pilatos quis dar honra a Cristo, por isso o manda ferir como aos Deuses, não o fazendo a quem o ladeava. Mesmo os atrozes autos-de-fé da Inquisição tinham lugar, normalmente, em efeméride religiosa ou profana. Hoje este ritual ainda tem chamamento religioso, sendo disso exemplo os que se imolam pelo fogo ou em ataques suicidas. O ritual do sangue dos animais ainda hoje é um vestígio daquele que era feito com seres humanos. Em suma, é esta a Lenda da Ave Pelicano.
Podem os poderes financeiro, económico, político, religioso, ou mesmo qualquer forma de domínio sobre os povos, tentarem apagar o Arquétipo Espiritual da História que tudo renasce com mais força, sempre através de um credo de fé, mesmo de um conto infantil.
Queimem-se bibliotecas, proíbam-se matérias escolares de filosofia, história e literatura, prendam-se vozes mensageiras, decretem-se censuras, tudo é irrelevante. Hoje renasce Tolkien e o Senhor dos Anéis, com as Torres Gémeas, antecedido da banda desenhada de Thor e Connan e da história da Branca de Neve e os 7 Anões, ou Elfos da Sombra, aqui mineiros. A Bela Adormecida, o Feijoeiro Mágico, Alice no País das Maravilhas, Peter Pan e a Fada Sininho, Super Homem ou Homem Aranha, as Fábulas de La Fontaine ou o mito do Rei Artur, são diversas formas de se manifestar a espiritualidade. Penas de Homero, Dante ou Camões são dedos de Wagner, Mozart, Lizst, Chopin, Bethoveen, Bach ou Verdi.
O mundo de hoje não é diferente de outros ciclos da História. Nunca existirá futuro, pois tudo não passa de uma acção-reacção do passado no presente, a qual evoluirá conforme as acções positivas e negativas cometidas. Cristo já tinha sido, similarmente, Osíris, Balder ou Krishna.
O tempo que dei a este texto foram de 9 páginas. Não é possível desenvolver muito do que foi dito. Para terminar, no arquétipo de Portugal, no binómio cristão-celta direi que a Ordem de Cristo transformou a Cruz de Pedra celta no Padrão dos Descobrimentos e que «achámos» o Brasil, pois este nome deriva de Yggdrasill, a Árvore que os Índios nominavam pelos contactos com nórdicos (e vikings). Cristóvão Colombo antes de «ir» à América esteve na Irlanda estudando as rotas nórdicas, passadas também aos Corte Real. Lenda ou mito, a língua quíchua da América do Sul, mais centrada hoje no Perú, tem paralelo filológico com o hebreu antigo. Nós ainda temos a Porca de Murça e nos mapas que transcreviam a nossa designação antiga geográfica, a Lusitânia proto-histórica, era o Portugal de hoje dividido em:
q CALLAECIA, a Norte de Durius vel Dorio flumen
q LUSITANIA, englobando a Callaecia, a Norte de Tagus flumen
q MESOPOTAMIA, sensivelmente todo o Alentejo, com o os rios principais: Ana flumen e Cahpgus flumen.
q CYNETICUM, correspondendo ao Algarve.
O tema quase a terminar diz Os Celtas e os Cristãos, porque tem mais nexo com a nossa realidade geográfica. Podíamos comparar os cristãos com outras religiões. Podíamos fazer uma grelha comum a todos os povos, escrevendo nas intercepções Religião-Divindades o nome adequado à Suas missões e saberíamos uma mesma Mensagem com diferentes nomes. Assim como se quer globalizar o mundo pela religião do dinheiro, porque não fazê-lo também com o religar da espiritualidade do ser humano?.

Grato por ter estado hoje neste lugar (do Deus Lug) e bem-hajam Vossas Excelências por me terem escutado. Disse.




JOÃO SANTOS FERNANDES

Lisboa, 15 de Março de 2003
A Suas Excelências e Altos Dignatários
de Credos de Fé e Comunidades:
Igrejas: Patriarcado de Lisboa
Adventista do Sétimo Dia Nunciatura Apostólica
Apostólica Católica Ortodoxa Centro de Reflexão Cristã
Baptista de Lisboa Comunidade Cristã Internacional
Católica Alemã Comunidade Hindu de Portugal
Cristã de Lisboa Comunidade Islâmica de Lisboa
Cristã-Nova Aliança Comunidade Israelita de Lisboa
De Cristo Comunidade Países de Língua Portuguesa
De Deus em Portugal Comunidade Vida e Paz
Evangélica Ass. Deus Pentecostal Missionários Combonianos Coração Jesus
Evangélica Pent. M. M. Mundial Missionários da Consolata
Evangélica Presbit. de Portugal Missionários do Espírito Santo
Internacional Graça Deus Port. Missionários de São João Baptista
Jesus Cristo dos Santos Ult. Dias Universidade Católica (Faculdade Teologia)
Lusitana Cat. Apost. Evangélica
Luterana de Portugal
Universal de Jesus Cristo
Universal do Reino de Deus

Onde tudo é global e material, na religião mundial do dinheiro, cada vez mais o ser humano está desprovido de leis e apoios que o elevem espiritualmente, face à desunião do caleidoscópio dos credos de fé e crenças dos povos, tudo emanando do mesmo Logos Manifestado, ao longo de Ciclos da Humanidade.
Será possível caminharmos para uma globalização espiritual, equilibrando o materialismo actual da governação mundial preponderante?.
Perdoai se a listagem destinatária não é exaustiva, por limitações diversas, entre as quais de endereços, mas julgo que já muitos milhões de portugueses aqui estarão, simbolicamente, inclusos. Acredito que a nossa tradição espiritual e ecuménica perante o Mundo não deu apenas os Descobrimentos. Talvez falte dar exemplo de uma união espiritual de todas as religiões em solo luso.
Bem–Hajam Vossas Excelências, Mui Ilustres Dignatários de Credos de Fé e Comunidades com implantação em Portugal, bem como os povos de matriz lusa. Deixo uma pequena gota de oceano, com uma intervenção-debate que fiz em Alenquer, uma tentativa de encontrar raízes da Árvore do nossa Alma e do nosso Espírito.
Por tradição cristã de Portugal, que Sua Eminência o Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa e Sua Excelência Reverendíssima o Senhor Núncio Apostólico possam ajudar o devir de Portugal.
Com elevada consideração e gratidão a Vossas Excelências:

Affonso Domingues e mosteiro da Batalhao por Joao Fernandes (membro da Terúlia)

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BAR DO ALÉM, ALENQUER
Palestra do Coronel João Fernandes
13 de Abril de 2002


MESTRE AFONSO DOMINGUES----600 ANOS DE MEMÓRIA

Nascido nos anos 30 do séc. XIV, Mestre Afonso Domingues foi baptizado na freguesia de Santa Maria Madalena, em Lisboa, vivendo, mais tarde, junto às Portas de Ferro, em casas cedidas por D. João I, imediações próximas da Igreja de Santo António, zona que o violento sismo de 1344 obrigou a reconstrução, sofrendo a Sé de Lisboa um rejuvenescimento com o gótico, construindo-se a sua Capela-Mor e Deambulatório, sendo para isso chamada a Escola de Domingos Domingues, por D. Afonso IV.
Mestre Domingos Domingues, pai ou Mestre de Afonso Domingues, foi o arquitecto do Mosteiro de Santa Isabel, fundado em Coimbra por Dona Mór Dias, consagrado à tia paterna da Rainha Santa Isabel, Infanta da Hungria. Este monumento era o ex-libris do gótico a Norte do Tejo, enquanto o seu homólogo a Sul, construído também no reinado de D. Dinis, era a Capela dos Mestres da Igreja do Senhor dos Mártires de Alcácer do Sal, traçada por D. Garcia, Mestre da Ordem de Sant’Iago da Espada, de planta octogonal, de abóbada estrelada, iluminada por janelas altas de 2 luzes.
Este gótico metamorfoseado pelos portugueses, que deu luz à visão interior geométrica de Mestre Afonso Domingues, tem as suas raízes próximas em 4 obras que marcaram o séc. XIII:
q O interior da Sé de Évora, de arcos torais, em ogiva, altos, esguios e leves, com zimbório que lembra a Torre del Gallo da Catedral de Salamanca, só que a cúpula de Évora assenta em trompas, como o útero da mãe segurando o filho, enquanto a de Salamanca, como as de Zamora e Toro, assenta em pendentes. Atribui-se esta portugalidade gótica às heranças da mestria francesa vinda pelo sangue borgonhês, o qual já havia levantado as Igrejas francesas de Chipre, saberes arquivados e desenvolvidos pelas nossas Ordens Monástico-Militares, mas cuja origem mais remota está na lendária Petra, na Jordânia, não sendo em vão que o rio de Tomar é o Nabão, nome desse povo dos Nabantinos cujos saberes foram parar também aos Essénios. Esta obra de Évora atribui-se a D. Durando, seu Bispo, falecido em 1283.
q A construção do Convento de Almoster, em 1289, fundado por D. Berengária Aires, com 3 naves, portal gótico e arcos ogivais sobre pilares, onde se julga terem estado os Mestres Antão e Afonso Martins, sendo depois responsáveis pelo traçado do Convento de Odivelas, entre 1295 e 1305.
q Por último, a 4ª construção, a Igreja de Mértola ( sede da Ordem de Santiago da Espada, fundada a 1 de Maio de 1290 por 13 Cavaleiros, tendo por 1º Grão-Mestre D. João Fernandes, morrendo com o Gótico, ao 17º- D. João III ), é exemplo da mudança do arcobotante, ou arco quebrado, para a abóbada artesonada, mas onde o primeiro nos deixou as Catedrais de Nossa Senhora de Paris (1163), de Chartres (1194) e de Reims (1211), esta última a obra prima de Villard de Honnecourt que nos deixou o seu ALBUM, escrito em idioma da Picardia, um Tratado de arquitectura, onde esta palavra, geometria e maçonaria tinham o mesmo significado, tudo isto simbolizado no “Labirinto” de Honnecourt, mandala de 11 círculos concêntricos, interrompidos em pontos escolhidos, decorando as Catedrais de Reims, Chartres, Amiens, Sens, Bayeux, Auxerre, Saint-Quetin e Poitiers.
Quis dar esta introdução não só para que possais ter um roteiro histórico para perceber o traço gótico de Mestre Afonso Domingues, como também para se perceber a Abóbada , inserta nas Lendas e Narrativas, contada por Alexandre Herculano, a qual me dispenso de analisar, por ser de todos conhecida, dela se inferindo que jamais a Escola de Mestre David Houghet ( ou outro nome homófono que lhe queiram dar ) se poderia encaixar no gótico português, viesse ou não o saber da Grande Loja de York ou do Mestre Maçon que Herculano identifica como o Venerável Mestre Vilhelmo de Wykeham, pondo no discurso de Houghet “cuja obra da Catedral de Winchestria tamanho ruído tem feito no mundo”. No entanto, Mestre David não se conseguiu referenciar como membro da Casa do Rei de Inglaterra, como era usual, destacando-se os Mestres Maçons William Wynfford e Henry Yevele, este encarregado de em 1377 de reconstruções na Abadia de Westminster e na Torre de Londres.
O primeiro ensaio do nosso gótico é feito na Igreja mais elegante do românico em Portugal, a Igreja de Paços de Ferreira, sendo prova os pilares da nave central tão elevados, para suportar arcos mestres que nunca foram construídos.
Caiu a Abóbada da Batalha, como já havia caído a da Catedral de Beauvais, isto porque se elevou a construção francesa aos 50 metros, sem que fosse objecto de rectificação por tirantes e cavilhas, como foi aplicado na Catedral de Amiens. Construir um Templo é um acto de Fé do Mestre que o traçava transformando o seu corpo em planta, como no Românico na Catedral de São Pedro de Angoulème, havendo por norma, criada após a Catedral de Laon, em desenhar uma rosácea de 13 metros de diâmetro (número Arcanico do Renascimento) que desse vida a pelo menos 28 estátuas do Pórtico, tantos os Grão-Mestres da Ordem do Templo em Portugal, ciclo lunar bem expresso na Catedral de Notre Dame.
Mestre Afonso Domingues foi um novo Mestre Maurice de Sulli de Notre-Dame que apenas quis elevar o Mosteiro da Batalha a 30 metros, como Mensagem Crística do Baptismo de Portugal, bem expresso também em D. Nuno Álvares Pereira, sendo o 13º filho de D. Iria Gonçalves do Carvalhal, nascido a 24 de Junho de 1360, Dia de São João Baptista.
Também a ABÓBADA de Mestre Afonso Domingues era só dele e do segredo dos dois principais Mestres que o acompanhavam : Martim Vasques e Fernão de Évora.
Podem surgir especulações sobre a data exacta da morte de Mestre Afonso Domingues, no entanto é um facto que é em 1402 que os dois Mestres atrás referidos, o primeiro mais idoso que o segundo, voltam para o Norte para continuar a mais notável obra gótica do séc. XV: a Igreja de São Francisco, em Guimarães, autorizada por D. João I, em carta régia de 3 de Novembro de 1400. Com a morte do Mestre estrangeiro, David, regressa Martim Vasques à construção do Mosteiro em 1438, e com sua igual sorte, regressa Fernão de Évora em 1448, sendo de seu traço o Claustro de D.Afonso V. Com a sua morte em 1480 restou a Mateus Fernandes a decoração das Capelas Imperfeitas, até 1515, exercitando-se por este tempo Mestre Boitaca, Mestre do Jerónimos e Mestre da decoração Manuelina da Batalha, seguindo-se até 1608/9 um desfile de muitos artífices, artistas e vidreiros estrangeiros, alemães, flamengos e italianos, já em tempo de Inquisição e Contra-Reforma, morrendo o gótico com o Advento do Renascimento.
Para implantar o Mosteiro da Batalha, seguiu-se a regra de Cister que nos dizia: “in civitatibus castellis villis, nulla nosta construenda sunt coenobia, sed in locis a conservatione remotis”, ou seja uma construção sua só em sítio isolado, mas que ainda obedecia a dois parâmetros: orientação por linhas telúricas e paralelos energéticos e a proximidade de um curso de água, neste caso o rio Leda. A planta inicial de Mestre Afonso Domingues não chegou aos nossos dias, talvez Mestre Houghet a tenha modificado, mas o que importa neste edifício estranho, um puzzle de Mestres, são as suas dimensões: 260.2 pés de comprimento, 72.2 pés de largura e 98.4 pés de altura, como se de um navio se tratasse. Se usarmos a correcção aceite de 1 Pé=0,3048 metros, a numerologia geométrica exótérica do Mosteiro dá-nos proporcionalidades e números sacro-arcanicos fáceis de interpretar. Assim:
Comprimento: 260,2 pés (2+6+0+2=10)=1 79,30896m=42=6
Largura : 72,2 pés (7+2+2=11) =2 22,00656m=21=3
Altura : 98,4 pés (9+8+4=21) =3 29,999232m=45=9
42=6 108=18=9
Tal como em 1755 não caíram os arcos do Aqueduto das Águas Livres (excepto o último junto das Amoreiras), são este tipo de cálculos, hoje não seguidos pelos engenheiros, que testaram a solidez dos arcos botantes do gótico, complementos do corpo, como os 8 ossos principais do ser humano, ao ser bombardeada a Catedral de Rouen em 1944 sustida pelas suas pernas de aranha, absorvendo o peso do seu corpo, mesmo quando se desloca na sua obra de engenharia: o estranho mandala da sua teia.
Mas Rouen também não caiu pelo mito mais sagrado de França ligado a Aljubarrota: o de Jeanne d’Arc. Nascida em Dia de Reis, a 6 de Janeiro de 1412 é vendida aos ingleses, pelos borgonheses, por 10 000 francos de ouro. Ajuizada pelo Bispo de Beauvais, Pierre Cauchon, da Abóbada da Catedral caída, ela é queimada a 30 de Maio de 1431, ano da morte do Condestável de Portugal (a 1 de Abril), como ela o era de França, fim formal da Guerra dos 100 Anos. Apesar de Portugal perdoar ao Duque da Borgonha a traição do seu povo e a traição de Carlos VII de França, por ela coroado em Reims a 17 de Julho de 1429, dando D. João I a mão de sua filha ao Duque, ficou o Tratado de Windsor sempre manchado de sangue, sangue da Ordem do Tosão de Ouro, criada por este casamento, que ainda afecta as Franco Maçonarias destes 3 países, bem como as da Áustria e de Espanha, por acção do Imperador CarlosV. Mais tarde, na Revolução Francesa, é sangue de Maria Antonieta, filha do Imperador da Áustria, ex-Duque de Lorraine de França, Grão-Mestre das Lojas da Bélgica ( Flandres), é sangue de Sarajevo austríaco da I Guerra Mundial, parado com a beatificação, por Roma em 1918, de D. Nuno Álvares Pereira. É sangue da Guerra Civil espanhola e profecia da queda do seu Império com a tomada das Filipinas, 300 anos após o ciclo lunar filipino de 60 anos ter conquistado Portugal.
Por este mito anglo-luso, de uma Maçonaria Crística, foi decapitado, no Dia da Padroeira de Portugal, a 8 de Dezembro de 1746, na Torre de Londres, Charles Ratcliffe ou Lord Derwentwater, neto de Carlos II, genro de D. João IV, fundador das primeiras Lojas de Maçonaria, em Paris, lavrante dos Devoirs enjoints aux Maçons livres, datados de 27 de Dezembro de 1735, Dia de São João Evangelista. Após a Franco Maçonaria se instalar em Orleans, em 1744, por Loja de São João, passaria esta a designar-se de Jeanne d’ Arc. Depois de um historial de confirmação ela é hoje a Loja nº 5 da Grande Loja Nacional Francesa (como a Loja nº 5 é de Afonso Domingues na Grande Loja Regular de Portugal) e é a Loja nº 4168 (4+1+6+8=19, anos de vida da heroína) da Grande Loja Unida de Inglaterra, levantada pelos militares britânicios em 1916 para marcharem para a I Guerra Mundial, uma viragem mística contra a Alemanha. Falta às Maçonarias de Portugal e Espanha erguerem as Colunas da Lojas de D. Nuno Álvares Pereira e de Fernão de Magalhães.
De facto o Mosteiro da Batalha representa o final da espiritualidade portuguesa da Idade Média e o início da expansão marítima, terminada com o Mosteiro dos Jerónimos, símbolo do fim das Ordens Iniciáticas Portuguesas.
O primeiro Mosteiro, o de Alcobaça, também evoca Aljubarrotas mais antigas, pois situa-se na região onde em 146 A.C. Viriato derrota os Romanos, onde em 622 o Rei Godo, Flávio Swintila, expulsa de vez este mesmo povo da Lusitânia, mas também onde séculos mais tarde, a 8 de Dezembro de 1810 se travam duros combates contra o invasor francês. Talvez para se pensar no profético destas paragens, mandou o rei D. Dinis construir o Claustro do Silêncio no Mosteiro de Alcobaça, pela mão de Mestre Domingo Domingues, com primeira pedra em Abril de 1308, concluído em 1311, sendo aí Abade D. Pedro Nunes, futuro nome de um dos nossos melhores cientistas.
Então podemos dizer que a MEMÓRIA de Portugal e da sua mito-história está em 3 Mosteiros, levantando a Batalha o parafuso sem-fim entre Portugal e Castela, depois Toro, depois Tordesilhas, depois Filipes, depois Guerras da Restauração, hoje a conquista financeira, mas também a anexação pretendida por Espanha como relatava a revista Cambio 16, no seu número de Julho de 1983, uma psicose castelhana, uma vingança de Aljubarrota, desde logo tentada em 1385 no assassinato de D. Beatriz, que só não foi consumado, em Ávila, graças à acção do Arcebispo de Toledo.
A pedra de Mestre Afonso Domingues é contrária à pena do historiador espanhol Lafuente, citado por Hernani Cidade: “ não podemos reconhecer nunca, nem ao filho de Henrique de Borgonha nem aos portugueses, o direito à emancipação”, escrevendo ainda Julian Marias, no seu livro Cinco Anos de Espanha, de 1982:
A Espanha como um todo, mais do que uma recordação, é uma meta, um destino. A separação de Portugal foi um fracasso, uma rebelião contra a geografia. A Península Ibérica está preparada desde o princípio do tempo para ser morada dos espanhóis
É o mito anglo-luso que deixa hoje o Rochedo de Gibraltar, que leva D. António Prior do Crato a navegar com Sir Francis Drake, depois de não receber o preço que pedia a Filipe II por negociar Portugal. É este mito que mata Gomes Freire de Andrade, como assassinou João Fernandes Andeiro e Miguel de Vasconcelos, provocando a ruína da Sala do Convento de Cristo onde Filipe II quis ser Rei de Portugal e a derrota de D. Afonso V, em Toro, por querer ser Rei de Castela. A febre mútua de um iberismo sofreram as mudas Infantas de Portugal e de Espanha, não sabendo elas se deviam ser castelhanas ou portuguesas, tal a miscigenação de nacionalidade de ambas as Cortes, após os finais do séc. XV.
Faltou um João das Regras em 1580, mas houve D. António da Gama subornado por Filipe II. Faltou um Álvaro Pais, padrasto de João das Regras, mas arranjou-se um Febo Moniz para fingir que o braço popular tinha algum peso para lavar as consciências. Não invocámos o Tratado de Windsor, pois o Duque de Bragança não tinha sangue de Aljubarrota, sendo o primeiro a beijar a mão de Filipe II em Tomar e o Arquétipo Sagrado de Portugal acabou com a sua dinastia, chamando D. Manuel II à mesma Corte de corrupção de D. Manuel I, onde D. Jorge, filho bastardo de D. João II, se chamava agora João Franco. Quis este mito que de novo os Chanceleres-Mores de Portugal e Espanha, quais ambos Reis Afonso ou João I, se chamassem de Soares, um Mário outro Adolfo, ora Primeiros Ministros.
Dizia o historiador Oliveira Martins que entre Portugal e Espanha é cíclica a AMIZADE-PRESSÃO-VIOLÊNCIA, mas isto só assim se passa por já não existirem Escolas Iniciáticas como as de Mestre Afonso Domingues para assessorarem os ocupantes dos Tronos de Portugal e Espanha.
A Franco Maçonaria Francesa aprendeu com a História e em 1965 deu, com pompa e circunstância, o nome de Villard de Honnecourt, de Reims, à sua Loja de Investigação (número 81 ou 9x9), o mesmo fazendo a Franco Maçonaria Inglesa, nominando a sua Investigação Maçónica com os Patronos da Maçonaria, os 4 Santos Coroados, evocados no calendário liturgico a 8 de Novembro, 4 irmãos durante muito tempo ignorados após o seu suplício no ano de 304, mas sempre venerados pelos Comacini, Mestres Arquitectos Livres graças aos reis Lombardos Rothares (643) e Luitprand (713), cuja Coroa Mística de Ferro foi usurpada por Napoleão, ao coroar-se ele mesmo Rei de Itália.
Portugal sofreu por copiar o mau estrangeirismo Maçónico, quando insufla a Maçonaria Intelectual ou Mental, teimosamente chamada de Especulativa, para esconder e fazer refugiar vícios, paixões e partidos políticos, cujo Ramo Francês Ferrysta e depois Combista perseguia tudo quanto era cristão, a ponto de Eduardo VII, falecido no ano de 1910, no mito anglo-luso, cortar relações com o Grande Oriente de França. A MEMÓRIA MAÇÓNICA da BATALHA, no mito de Sebastião, quis encontrar nos Sebastiões Maçónicos e Grão-Mestres de 1802, Sebastião José de Sampaio Melo e Castro Lusignan e de 1907, Sebastião de Magalhães de Lima, um renovado arquétipo da mito-história de Portugal, mas em vão e o mais recente aviso, publicitado por todos os OCS quanto à dissidência da Casa do Sino, outra face da Franco Maçonaria de 1996, ocorreu no mesmo dia da morte de Magalhães de Lima, a 7 de Dezembro, data da mesma noite de 6/7 de Dezembro de 1383 em que o Conde Andeiro, João Fernandes, foi morto pelo Mestre de Avis, dia de nascimento, em 1924, de Mário Alberto Nobre Lopes Soares.
Somos um país onde é vergonha publica ser-se Maçon, onde é vergonha pública ser-se representante de Ordens Iniciáticas, mesmo sendo Elas tuteladas por Igrejas de vários credos religiosos. Já não vestimos como em Aljubarrota. Os militares e o clero preferem as suas vestes profanas. As capas de Aljubarrota já só são Ordens Honoríficas e a Torre e Espada de D. Afonso V não é mais que um pentagrama satânico invertido, transformado na actual e mais relevante condecoração militar portuguesa, diferente com D. João VI que a quis de hexagrama para condecorar estrangeiros que salvassem Portugal da submissão à França, então afastada do espiritualismo de Jeanne d’ Arc.
Napoleão é derrotado pelo Marechal Maçon Russo Koutouzov ( Mikhail Larivonovitch Golenitcheff ), semelhante a D. Nuno Álvares Pereira, galvanizando as suas tropas pelo Sagrado e não pelo saque. Waterloo é de novo Poitiers, onde o irmão do Marquês de Wellesley ( Grão-Mestre de Grande Loja da Irlanda em 1782), o Duque de Wellington, Mestre Maçon, acaba de vez com mais um Imperador, cuja causa de ilusão atraíu Gomes Freire de Andrade.
O nosso gótico foi uma arte de guerra contada, adquirindo as construções uma fisionomia concentrada, muito corpórea, com uma verticalidade arrastada sempre pela membratura forte dos apoios, bem presas à terra e cujas linhas nos fazem lembrar a rusticidade do guerreiro, adornada na Batalha pelo estilo Manuelino. Talvez a memória do nosso românico tenha tido mais beleza, como na Igreja do Convento de São Fins de Friestas, na Capela de Nossa Senhora de Ourada (?), em Melgaço, na Igreja de São Martinho de Mouros, em Ribeira do Douro, na Igreja de Paços de Ferreira, no Senado de Bragança ou no Solar dos Vasconcelos, em Santa Maria dos Ferreiros, em Amares.
Mas aqui também não houve a magnanimidade de Sant’Iago, Orense, Lugo ou Tui, face à dispersão das guerras, ora com os mouros, ora entre cristãos, faltando riqueza para tal, mas mesmo assim a MEMÓRIA românica nos deixa ficar os Castelos de Almourol, Tomar, Guimarães e a Igreja de Santa Maria do Olival e duas Sés: a de Coimbra e a de Lisboa. As sementes Celtas, Visigóticas e dos Colégios Romanos, o traçado da Ordem de Cluny e da “irmã” Premonstratense (só nos deixando esta os Mosteiros de São Vicente, em Lisboa, e de Santa Eufémia, no Porto), bem como a lenda do Mosteiro de Tarouca que de certo sabeis, só por mistificação das missões de Viriato-Sertório e dos Borgonheses se confunde com os 5 Reinos de Espanha, uma Península-Cabeça da Europa, onde 2 dos seus 7 ORIFÍCIOS foram os Reinos Unidos de Portugal e dos Algarves. Esta RAÍZ do SEXTO RAIO deu origem à Ordem do Tosão de Ouro, fundada em Portugal no momento do casamento da filha de D. João I com Filipe, o Bom, Duque da Borgonha, como já mencionei. Tal o medo do Imperador Carlos V desta Ordem que tendo ela ido parar à Casa de Austria, a trouxe para Espanha, como que fosse uma Aljubarrota itinerante dos ancestrais Argonautas. A destruição da Invencível Armada era uma questão de anos. Napoleão tentou ter um Império Português e quando viu a sua vitória na Áustria, na batalha de Wagran, tentou implantar a Ordem dos 3 Tosões de Ouro. Mais um Imperador caído, como cairia o Imperador Adolfo, nascido na Áustria, tentando em Almourol, em Tomar e em Sintra encontrar o que só a futura Maçonaria há-de descobrir, mas esse poder estará ainda durante muito tempo na mão dos Irmãos Maiores.
O que sabemos de Mestre Afonso Domingues, tenha ele sido filho ou não de Mestre Domingos Domingues, mais crível pela sua aprendizagem da Geometria e Arquitectura, talvez seja tão pouco como o que sabemos de Mestre Mateo o autor do Pórtico da Glória da Catedral de Sant’Iago. Ambos tinham uma visão identica do que é transmitir uma Mensagem através de um Templo, era o que faltava a Mestre Houghet que não criava, limitava-se à frieza científica do que lhe tinha sido ensinado. Pagou caro D. Filipa de Lencastre a protecção e a nomeação dos Mestres Ingleses, pois seu marido, por algo de violação do sagrado, morre a 14 de Agosto de 1433, adivinhando ele em Alcochete, onde já estava doente, que se havia de preparar para fazer o percurso da Rota ancestral dos guerreiros mantido até ao séc. XIX, nas Linhas de Torres, onde os Archeiros de Aljubarrota eram agora Generais. Percorrendo o seu caixão Lisboa- Portas da Mouraria-Odivelas-Vila Franca- Alcoentre-Alcobaça o ofício funebre, na Batalha, esteve a cargo do Bispo de Évora, lugar do gótico e do romano, também junto de Alcobaça, chamando-se o sítio Évora de Alcobaça, fazendo a pregação Frei Fernando Rota, pregador depois de El-Rei D. Duarte, o fim da Ínclita Geração.
Não sabemos da pompa e circunstância do funeral de Mestre Afonso Domingues. Talvez Alexandre Herculano lhe desse um funeral digno ao deixá-lo morrer debaixo da Abóbada. Talvez ainda não se tenha inventado melhor morte para Camões ou Fernando Pessoa, abandonados ao álcool. Ambos perceberam a mito-história de Portugal, mas quem não é dócil ao poder instituído acaba como Damião de Góis, nascido em 1502, cem anos após a morte de Mestre Afonso Domingues, nascendo, 400 anos depois, em 1802, Victor Hugo cuja alegria maior de sua vida foi saber que Portugal tinha abolido a pena de morte.
Talvez seja agora o momento de retomar a emblemática da Maçonaria de Mestre Afonso Domingues. Não vos posso falar, por limitação de tempo, das verdadeiras metamorfoses da Maçonaria ao longo de milhões de anos. Importa reter que o gótico foi uma forma de desenvolver a Quinta Raça, lançado que foi o Sexto Raio, o da devoção e da espiritualidade, cujo excesso deu e está a dar em fanatismo e em materialismo, o poder dos Cartões VISA, um anagrama de AVIS, esse cartão de crédito criado pelos Templários.
Os Grandes Mestres das Catedrais e Mosteiros eram Irmãos Menores da Grande Loja Branca, cujos Capítulos ocorrem de 500 em 500 anos (aprox), presididos pelos Irmãos Maiores. Com o advento do Sétimo Raio, ainda esperado em nosso século, a Maçonaria do Intelecto era (devia ter sempre sido) também a da Construção do ser humano, desvirtuada pelo polo negativo do Raio: o positivismo e o materialismo.
Esta nova Maçonaria nasce, oficialmente, em Portugal em 1802, 400 anos após um dos maiores Mestres da Maçonaria Operativa ter morrido, o nosso Afonso Domingues. Mas, infelizmente, poucos foram os que tinham visão interior para pertencerem a uma Escola Iniciática, transformando todo o Arquétipo Sagrado de Portugal e do novo Raio numa quimera política, tanto mais que longe estavam as Guildas Comacinas, herdeiras dos Colégios Romanos, construtoras da Catedral de Coire, na Suíça, dos Canteiros de França e da Alemanha, das Guildas Inglesas das quais Mestre Houghet seria expressão, havendo tantas Maçonarias em Portugal e na Europa que mais parecia uma guerra civil entre Irmãos, cada qual dizendo-se mais herdeiro das Tradições, aliás como ainda hoje se manifesta em vanguardismos de tentativa de liderança mundial, contrária à Regra da Grande Fraternidade Branca, onde é proibido levantar Lojas por discordâncias, ou seja a Maçonaria ainda constrói por oposição e não por união, havendo, proporcionalmente, mais Lojas do que Mestres que lhes deviam pertencer. Vejamos esta verdade em Portugal no séc. XIX, onde tiveram lugar:
v Grande Oriente Lusitano
v Grande Loja Portuguesa
v Grande Oriente de Portugal
v Grande Oriente Lusitano Unido
v Maçonaria do Norte
v Maçonaria do Sul
v Grande Loja Provincial de Portugal da Grande Loja da Irlanda
v Grande Oriente do Rito Escocês
v Confederação Maçónica Portuguesa
v Grande Oriente Português
v Grande Oriente da Maçonaria Ecléctica Lusitana
v Grande Loja da Maçonaria Portuguesa do Norte
v Grande Loja dos Maçons Antigos Livres e Aceites de Portugal
v Grande Loja de Portugal
As Escolas onde Mestre Afonso Domingues adquiriu a mestria, ensinavam muito para além da mera construção arquitectónica e é essa a Mensagem que esteve presente em 1991 na fundação da Grande Loja Regular de Portugal, onde o exemplo máximo de dedicação era a condecoração Mestre Afonso Domingues, em cujo ano de 1391, 600 anos antes, a sua cegueira era irreversível. Efémera sorte para a Maçonaria Portuguesa, pois a nova guerra civil entre irmãos estala, parecendo que Houghet está presente, e o novo símbolo de dedicação é o mais nefasto para o devir de uma Franco Maçonaria : General Gomes Freire de Andrade. Não sou tão crítico como Neves da Costa, no seu livro A Traição de Gomes Freire de Andrade (publicado pela Sociedade Astória Lda, em 1935), mas ai dos nossos Iniciados que não sejam exemplo da Ética e da Moral, como o não foi este General, sendo mais grave quando não conhecem o Arquétipo Sagrado de Portugal, pois fácil era perceber a presença dos ingleses no séc.XIX, como na Lisboa de Afonso Henriques, na conquista do Sul do país, com Ricardo Coração de Leão, com os interesses dos Duques de Lencastre e Cambridge, pelos seus casamentos com Infantas de Castela (Infantas filhas de D.Pedro I, irmão de Henrique II) e porque chamámos os archeiros ingleses a Aljubarrota, em encontro de 13 de Maio de 1384, entre Ricardo II e o chanceler-mór Lourenço Anes Fogaça, acompanhado do Mestre da Ordem de Sant’Iago da Espada, Fernão Afonso de Albuquerque. Não lhes devemos Aljubarrota, mas sim lhes pedimos uma das armas de maior cadencia de tiro por minuto, 12 flechas, máquina de guerra afinada entre as Batalhas de Crecy (26 de Agosto de 1346) e Poitiers (19 de Setembro de 1356), na Batalha de Mauron, em França, a 14 de Agosto de 1352, data de Aljubarrota.
Queiram ou não, a mito-história anglo-lusa é demasiado complexa, tanto, negativamente, dando origem ao Hino de Portugal, ao diferendo Afonso Domingues-David Houghet ou às interferências de Ulisses Grant ou Mac-Mahon para que os ingleses nos devolvessem o que roubaram, como é positiva nas diferentes ajudas militares, ajudando Portugal mais a sua Monarquia, restabelecendo-a pelo casamento de Carlos II com a filha de D. João IV, após terem assassinado Carlos I para terem a República de Oliver Cromwell. Igual sorte teve Carlos I de Portugal, surgindo depois a Republica de 5 de Outubro, mas data da Independência formal de Portugal, em 1143. Se os Archeiros ingleses vieram para Portugal, antes deles actuarem em Aljubarrrota enviaram os portugueses 6 galés para o rio Tamisa, base do acordo, infligindo pesada derrota às galés castelhanas e suas aliadas (dizem 24 galés), salvando-se o Trono de Ricardo II.
Depois de fazer um caleidoscópio deste tema, irei citar uma parte do discurso do Ministro da Cultura e Coordenação Científica, Francisco António Lucas Pires, em cerimónia no Campo Militar de São Jorge, a 14 de Agosto de 1982:
“...Foi aqui que se selou a aliança mais firme, permanente e constitutiva entre o povo e a sua terra. Foi aqui que a nossa terra se tornou sagrada para os portugueses, dolorosamente sagrada. Terra que não nos fixava mas nos libertava, servindo também como base positiva a uma universalidade que é a nossa outra face...Afinal o apelo de Aljubarrota hoje é este contrato de independência nacional à volta de uma ideia concertada e comum de país. E como a independência é de todos ou não será de ninguém, seria um fracasso não ouvir esse apelo. É dele que depende, depois da História de Aljubarrota e da dos Jerónimos, esta terceira e nova História por fazer e que todos somos chamados a realizar. “
Que História temos de fazer?. Por certo a inacabada do Espírito Santo, iniciada em Alenquer, advertindo-se o Mundo em 1945, ao tornar-se Doutor da Igreja o Franciscano Santo António. Por certo a inacabada das Ordens Iniciáticas, advertindo-se o Mundo em 1918, ao tornar-se Beato Frei Nuno de Santa Maria. Hoje já advertimos o Mundo, pelo Afeganistão, ao beatificar-se Frei Bartolomeu dos Mártires.
Construímos Alcobaça, Batalha, Jerónimos, mas Mafra não será para alojar os materialistas do poder, com hábitos de púrpura. Precisamos de um novo Mestre Afonso Domingues, não para construir estradas, pontes ou monumentos de cimento armado. Precisamos de um Mestre Afonso Domingues saído do saneamento do materialismo das Escolas Iniciáticas, pois o Sétimo Raio (que não entra a calendário) não se compadecerá com os falsos Maçons. Só fomos Grandes até ao reinado de D. João II. Deixámos de ser Portugueses quando deixou de haver Gótico. Hoje não precisamos de um Rei, mas sim de um Rei-Sacerdote, qual Condestável de Aljubarrota ou o Príncipe Negro de Poitiers que integre, na Europa e no Mundo, o novo Raio, que uns chamam Espírito Santo, outros Quinto Império, outros de Encoberto, outros do Messias, talvez seja melhor dizer de Esperança face ao Mundo podre deste capitalismo selvagem, o negativo do Raio anterior que continua a massacrar em nome da Fé, como foi iniciado com os Cátaros.
Quase a terminar, deixei para o fim o mais oculto do significado do Mosteiro da Batalha. Acreditemos ou não no sonho de São Bernardo de Clairvaux, onde São João Baptista lhe terá dito para procurar o lugar do Santo Cirita, muito para além dos Pirinéus, para instalar a sua Casa-Mãe Cisterciense, certo é que, sem desenvolver esta lenda, Frei João Froilaco, arquitecto, construiu a Abadia em Tarouca, abrangendo as vertentes da Serra da Barrosa, com primeira pedra de 1122 (11+22=33=6), com base nas plantas da Abadia de Fonteney. Em 14 de Agosto de 1162 nascia o 1º Dia da Ordem de Avis, chamada de Coimbra, com Regra de São Bento (sítio da nossa Assembleia da República e do Governo), com Acta e Cerimónia do dia anterior, em acto presidido por Frei João Cirita, Abade de Tarouca, a que assistiu o Rei, bispos e nobreza, sendo seu 1º Mestre D. Pedro Afonso, irmão de D. Afonso Henriques. Em 1166 transfere-se a Ordem para Évora e só em 1211 se instala em Avis, sendo seu 1º Mestre Fernão Roíz Monteiro ( 4º Mestre desde Coimbra). O seu 11º Mestre ( os 11 Círculos do Labirinto das Catedrais ), D. Gil Martins, foi o 1º Grão Mestre da Ordem de Cristo. O Mestre de Avis, D. João I, foi o 17º, ou 20º desde Coimbra, “morrendo” ao 22º Mestre, após ser eleito, em 1389, D. Fernão Roíz de Sequeira, outro Fernão de Roíz separado por 178 anos do 1º Mestre. Passava a sua Administração para D. Fernando, o Infante Santo, o nosso masculino Jeanne d’ Arc de Portugal, esquecido por D. João I, como Carlos VII fizera à sua Heroína. Por esta matriz oculta, Arcanica de 22, também a Ordem do Templo, em França, teve 22 Grão-Mestres, enquanto a nossa teve 40, 28+12, Ordem do Templo-Ordem de Cristo.
O Mosteiro da Batalha é, portanto, uma CHAVE de uma missão inacabada que só um verdadeiro Iniciado consegue decifrar, um QUADRADO de GUERRA dos Colégios Romanos, então com uma VANGUARDA, de D. Nuno Álvares Pereira, uma ALA DIREITA, dos Amantes ou Namorados, 6 Arcanico, de Mem Rodrigues e Rui Mendes de Vasconcelos, uma ALA ESQUERDA, Estrangeira ou do Mundo, 21 Arcanico, de Antão Vasques e João de Montferrat e com uma RECTAGUARDA de D. João I, sendo apenas 6 os reis João de Portugal, todos eles marcos de viragem no devir de Portugal. Por alguma razão oculta chamavam os Árabes e os Cristãos de BALATA à Extremadura Leirena-Ourém-Tomar e talvez seja de pensar porque razão, de hoje, a Resolução da ONU 1402, ano da morte de Mestre Afonso Domingues, seja aplicada à GUERRA do MÉDIO ORIENTE.
Neste Bar do Além, nesta Vila Franciscana de Santa Isabel, deixo um voto para que o meu novo Mosteiro da Batalha, o anterior já teve para ser cedido para as Grandes Cerimónias da Maçonaria Portuguesa, nele se instalando o Soldado Desconhecido, seja a Sede da Maçonaria do Sétimo Raio, cuja condecoração de dedicação tenha por nome Padre António Vieira, não indo mal ao mundo que se lembre o General Gomes Freire de Andrade, como símbolo do que não deve ser um Maçon actual, mas sim o que se lhe deve seguir, um Mestre Afonso Domingues, o símbolo do Soldado Conhecido. Por isto, as duas Lojas da Maçonaria Portuguesa da Grande Loja Regular de Portugal, evocam os seus nomes seguidos, Domingues depois de Andrade, Arcanos 4 e 5 , um profano-IMPERADOR, outro místico-PAPA ou PONTÍFICE, Homem das Pontes.
Dizem que Mouzinho de Albuquerque foi distinto Cavaleiro, mas daí a ser Patrono da Cavalaria vai o fosso de se ter suicidado. Deixai estar São Jorge, por Aljubarrota e pela Batalha de Victória, onde Santo António de Lisboa foi promovido a Tenente-Coronel, por ajudar a Espanha. É hora de ajudarmos Jerusalém, pois ela caiu em poder do Saladino a 5 de Outubro de 1187, data de 1143 ou de 1910. É esta a GRANDE MENSAGEM da BATALHA, mas será que PORTUGAL pode hoje ser ouvido quando a Franco Maçonaria Mundial, Cristã ou Sufi, não se entende?. Ligámos o Mundo, falta religá-lo na mística de Alenquer, pelo Espírito Santo. A passagem do milénio anterior foi salva por São Bernardo de Clairvaux, mas as Ordens Iniciáticas não o compreenderam, apenas nos lembramos da Corrida de São Silvestre. Ainda bem que o TRONO de PORTUGAL continua em BELÉM, guardado pela estátua de Afonso de Albuquerque. Não foi em vão que o nosso Governo actual tomou posse em Dia da Batalha de Atoleiros, reunindo-se a Grande Loja Regular de Portugal. Falta saber se saberemos comemorar o próximo Dia de Jeanne d’ Arc, a 30 de Maio, este ano feriado de DIA DO CORPO DE DEUS, dando Paz a Israel e à Palestina.
Permitam-me que estas minhas palavras, ditas em Alenquer, cheguem à Presidência da República, ao Governo e às Embaixadas de Espanha, França e Inglaterra pelo Mosteiro da Batalha, como às Embaixadas do Egipto e de Israel pelo Antigo Testamento, assim se possa fazer a Paz de Abraão, com Portugal, em 2002. Assim Seja.
JOÃO FERNANDES

Lisboa, 14 de Abril de 2002




Excelentíssimos Senhores Chefes de Gabinete e Secretários de

Suas Excelências:

O Senhor Presidente da República
O Senhor Primeiro Ministro
O Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros
O Senhor Ministro da Defesa Nacional
O Senhor Embaixador de Espanha
O Senhor Embaixador de França
O Senhor Embaixador da Grã-Bretanha
O Senhor Embaixador de Israel
O Senhor Embaixador da República Árabe do Egipto



Permitam-me endereçar a Vossas Excelências o teor de uma palestra por mim proferida em Alenquer, empenhando nela todo o pensamento para o devir de Portugal e da Paz no Mundo.
Não pretendendo mais do que elevar esta Mensagem, gravada num dos pólos de fé do culto do Espírito do Santo que tanto caracteriza a nossa Diáspora, deixo o augúrio de que tão Ilustres Destinatários de Portugal e dos Países ora expressos, tenham as maiores bem-aventuranças nas suas nobres missões.
Talvez um dia os Estados Unidos da América consigam compreender porque razão o seu Dia da Independência, a 4 de Julho, é também, liturgicamente, o Dia da Rainha Santa Isabel de Portugal, essa Mulher que lavrou o Alvará da Ordem de Cristo, em 1319. Oxalá que tal se verifique, pela Paz Mundial.
Fico grato pela atenção de Vossas Excelências,



PRINCIPAL NUMEROLOGIA EXOTÉRICA

DO

MOSTEIRO DA BATALHA


COMPRIMENTO

260,2 pés (2+6+0+2+2=10)=1 79,30896 m=42=6

LARGURA 3 9

72,2 pés (7+2+2=11) =2 22,00656 m=21=3

ALTURA 6 18

98,4 pés (9+8+4=21) =3 29,999232 m=45=9

Totais 42 =6 108=18=9



QUADRADO DA SALA DO CAPÍTULO

LADO = 62,3 pés ( 6+2+3=11) =2 18,98904m=39=12=3



ADIÇÃO TEOSÓFICA de:

3=3x4:2=12:2=6 ou 3+2+1=6

9=9x10:2=90:2=45 ou 9+8+7+6+5+4+3+2+1=45=9

42=42x43:2=1806:2=903=12=3

108=108x109:2=11772:2=5886=27=9


Exemplo do novo Testamento:

Chave 17 da pescaria dos Apóstolos ...os peixes, em número de 153 eram grandes peixes mas as redes não se romperam...

17x18:2=306:2=153 S. JOÃO, 21